Perde tempo nessa vida quem ainda não conhece o Tio Ivo. Alguém ainda lembra do Sean Connery, o eterno OO7? Pois bem, imagine o Sean daqui 10 anos...é o Tio Ivo, em pele e osso. Chapéu de lorde inglês aposentado, barba rala e branca, cabelo também ralinho e branco. Ah, e o mais interessante: suspensório.
O Tio Ivo veio almoçar aqui em casa. Trouxe de baixo do braço O Sul. Preferia Zero Hora, mas não encontrou. Chegou aqui em casa e bateu o olho num jornal do Litoral Norte. Folheou. Bateu o olho no editorial e ficou p* da vida. Ficou sabendo da palhaçada que foi a eleição em Torres. Denúncias de compra de voto, empréstimo de título de eleitor (por 100 pilas), engajamento de fucinonários da Brigada Militar, CEEE e DAER..., e etc. Mesmo com vídeos e fotos pra confirmar a denúncia, nada adiantou. O candidato que se beneficiou desse rolo todo, venceu.
Sentado à mesa, esperando o almoço, Tio Ivo pediu um copo de vinho tinto.
– Vinho antes do almoço, Ivo? – questiona Dona Geni, esposa do Seu Ivo.
– Ué, o que que tem? E tu deveria tomar pelo menos um copo de vinho todos os dias, ou então suco de uva. Faz bem pra saúde – retrucou Seu Ivo, com toda a paciência e maroteza que a vida lhe deu.
O almoço foi de lambuzar o bigode de qualquer gringo, como eu. (Lembrem, estou cada dia mais careca e ainda de bigode). Polenta mole, frango com molho de tomate e repolho cozido (um prato clonado dos alemães, que o chamam de Chucrute - em alemão, Sauerkraut).
Bebemos pouco, nem uma garrafa de vinho tinto.
Mas o melhor do que o cardápio e o vinho, foi a presença do Seu Ivo. Sempre sorrindo, mesmo antes de beber vinho. Bem humorado, ri e nos faz rir. Tem memória mais límpida e organizada do que muito piá de merda. Seu Ivo já plantou pencas de árvores e tem 3 filhos. Só falta um livro. Histórias não faltam. Aliás, sobram lembranças. E tem mais ainda pro vir. Afinal de contas, em janeiro Seu Ivo vai fazer só 82 anos. Quer mais?
Daqui a pouco ele volta aqui. Vai jogar canastra. Se bobear vai dar um banho em todos da mesa. Sem vinho, porque aí já é demais. É muita carta na mão.
Pausa.
Eu não disse. Seu Ivo veio. E me jurou de pé junto que bebeu suco de uva. Veio dizendo isso porque tropeçou no buraco da calçada. Mas não caiu.
– Tomei suco de uva e fiquei bêbado – disse, rindo sozinho.