sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

papo de redação


– Qual é a utilidade de um porco fosforescente? – pergunta Diego.
– Cagar colorido – responde o xinelão Mugnolini.

o jégue dos pampas

Três dias antes do coice amarrei o jégue no pára-choque do opalão e dei umas bandas pela região das lombadas. Dois dias antes do coice dei banho no jégue com omo, sem enxágüe. Um dia antes do coice o jégue e eu bebemos umas caipiras sem gelo na beira da praia de White Sands Beach.
Um dia depois do coice ainda não saí do coma.

p.s.: jegue é sem acento, mas fica mais bonito com.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

ó, pra quem vai ver o U2


Confirmado.
Segundo a agência AFP o Franz Ferdinand vai abrir o show do U2, no estádio Morumbi, em São Paulo, dia 20 de fevereiro. Ainda em stand by um show extra, dia 21 de fevereiro.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

quando tudo ainda faz sentido


Não morreu. Assistiu angustiado, empacotado como um pastel de feira, à derrocada do amor. Sentado no cordão da calçada, sentia o calor do asfalto queimar a sola dos pés e a maldição invadir os olhos.
Amou; comeu o pão que o diabo amassou; bebeu sangria nos chifres de um carneiro virgem; engoliu duas garfadas de feijão; rezou agarrado à imagem de Ogum; guardou a foto de Ana no bolso do casaco e adormeceu em sol a pino no passeio público. Nem em sonho, ninguém, sequer uma sombra, ou o espectro de uma alma desgarrada, beijou-o como se fosse o único.
Sozinho tentava antecipar o próximo verso, adivinhar a próxima nota, como se tudo fosse um desenho lógico, arquitetado na véspera do dia de finados. Mas era sábado e no sábado não sabia a hora certa, não sabia por qual das portas Ana sairia. Tirou o casaco, secou o suor do rosto com o punho da camisa, levantou num repente, beijou a medalhinha de São Jorge, bateu forte no próprio peito e caiu na gargalhada.
Dançou como se a rua fétida fosse um palácio. De braços abertos procurava alguém pra encaixar seu corpo. Requebrava uma valsinha meio samba que contrastava com a cadência da construção do outro lado da rua. Agarrou a primeira criança que viu brincando na calçada, beijou o rosto e disse, num sussurro: vai meu filho, ser guache na vida. Arrancou a camisa branca como se fosse mágico, abriu os braços e flutuou na contramão, rua adentro.
Um carro rasga o asfalto e avança o sinal. Girando, com os olhos cravados no céu, rindo e dançando, não ouve buzina, nem xingamento. Não ouve nada. Ninguém. De repente, uma freada brusca e uma batida forte. O carro lança-o ao chão. Levanta atordoado, sangrando, cambaleante. De olhos revirados sente o perfume de Ana. Sente uma mão acariciar o peito. Abre os olhos e nada. Ninguém. Só a marca de uma mão sobre o peito sujo de sangue.
Era Ana. Não sabia. Mas sentia.
Respira fundo, recosta-se num carro estacionado. Ainda pinga sangue da cabeça. Escorre pela testa e desliza sobre o peito. Aos poucos a marca da mão desaparece. Sem dizer nada, pede licença à multidão e segue descendo a ladeira. Casa depois de casa, os muros desaparecem e as árvores se decompõem. Como se tudo fosse sugado pela terra. Um buraco levando tudo em redemoinho.
Não morreu.

frase do dia

O uso indevido da sintaxe pode causar esfoliamento,
arritmia e gases (não necessariamente nessa ordem).

terça-feira, 10 de janeiro de 2006

nova morada


Oi, pode entrar. Ainda há pouca tinta nas paredes, poucos móveis, um certo cheiro de estranheza. Mas é só por alguns dias. Depois passa. Amanhã eu compro uma mesa, ou quem sabe, plante um carvalho no centro da sala. Não sei ainda. Pensei também em pendurar no teto partes do corpo de pessoas enrugadas. Hoje não. Hoje só penso em desfrutar desse quase nada que há na casa.

Como vocês vêem, já estendi no varal as primeiras fotos. Porta-retrato de um passado que nunca vai ser realmente passado. Traz impressa a fertilidade de um velho mundo que nunca envelhece, que sempre se renova. Inquietude...inquietude. Lido com pausas pra fixar na pele, no osso, no embrião da prole que um dia vai chegar. Nada de profecia. Só a certeza de que tatear o mistério é o melhor a fazer. Sem medo, asco, nem piedade.

Agora, se me dá licença, vou lixar o assoalho. Até daqui a pouco.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

consciência alterada



três momentos de
consciência alterada
sobrevoando um estado
de coisas frenético
e iluminado pelo samba
da bênção do seu vinicius

a volta do mugnolini

O Mugnolini não morreu apenas dormiu demais.
Vou tomar um banho, me vestir
e seguir com essa cachaça.