No pátio tem musgo, aquele velho balanço brinca ao vento e duas meninas jogam dardos nas costas do tempo. O vento derruba as folhas secas daquela árvores esguia. É quase noite. Um extraterreste vestindo uma camiseta com a estampa da Virgem Maria tira uns sons estranhos de uma escada de ferro. É ruído, pré-música, substrato para a vaguidão. Entre uma batida e outra nos degraus da escada de ferro, outro lunático dá porrada numa calha roubada. O som é assustador.
O extraterreste gosta de filmar o desespero numa câmera bem pequena, quase de bolso. O lunático prefere o tique-taque do relógio. Em comum, eles só têm o mesmo deus, Pasolini. Sem ele, o mundo seria um tédio, acreditam. Conheceram o cineasta italiano numa festa regada a Daime. Pouco vinho e muito Daime, aliás. Pasolini entregou a eles, um frame do primeiro curta-metragem jamais exibido. Agradeceram beijando seus pés.
O lunático chama-se Moisés. Ele não é da tribo dos Levi, como o famoso Moisés, aquele da Bíblia. Moisés é da tribo dos Moimats. Colhe uva no verão e instala parabólicas no inverno. Depois do primeiro choque, trocou o nome para Moishe. Acredita na reencarnação como pressuposto para a virilidade. Durante o período em que morou nas cavernas do Sudão apaixonou-se pela poesia de Vladímir Maiakóvski.
O extraterrestre se chama Robinson. Não, ele não é o primo do ET. As aparências enganam. Robinson cultiva lesmas para costurá-las na boca de meninos arruacieros. Robinson virou mussulmano na adolescência, depois de ser passado para trás no jogo War. Desde então, prefere ser chamado de Lappat. Não gosta de gente que fede. Coleciona filmes em VHS porque acredita na cura depois da morte.
É uma pena, mas Lappat e Moishe vão embora. Foram chamados pelo Pasolini. Parece que é uma nova missão espacial. Algo a ver com o gergelin do Big Mac.
Até a volta.
quarta-feira, 31 de janeiro de 2007
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