sexta-feira, 17 de outubro de 2008

o tempo

Tenho recebido mensagens de todos os cantos do mundo, e agradeço um a um. Mesmo espalhadas no mundo virtual, tenham certeza de que elas têm endereço certo no meu coração. Obrigado mesmo, a todos por todas as mensagens.

O Moishe, lá do outro lado do oceano, me fez lembrar de "Lavoura Arcaica". Que vimos como se fossemos dois irmãos quase-náufragos, navegando-sobrevivendo em uma canoa quase-furada. Nos agarramos com toda a força que podíamos e chegamos muito bem - e salvos - no outro lado do rio. Dolorida travessia, mas valorosa.

E o tempo, como diz o Pai (personagem de Raul Cortez), é impiedoso. A justa medida das coisas está no tempo. E só no tempo.

estranha paisagem

Faz frio. Chove. Pára. Volta o frio. Aquele orvalho gelado de manhãzinha. Neblina. Mas o jardim aqui de casa tá bem florido. E o Beija-Flor tá nem aí. Vem toda manhã bebericar do néctar da mesma flor cor salmão aqui perto da janela. Parece me dizer que não importa a estação, desde que tenha flor, o pássaro vai seguir fazendo o que sabe e o que deve fazer. Todo santo dia.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

som de um lugar distante

Aqui faz frio. E por isso sai um som como esse. Nostálgico.



Divirta-se aqui.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

bem-te-vi cantando na janela

Podem me dizer que ando louco, um doido varrido, mas ando sentindo a presença do meu pai, em quase tudo para onde eu olhe. E calma, isso não anda me fazendo mal não, pelo contrário. Agora mesmo, vim aqui pra casa dele e da minha mãe e ouço um passarinho cantar forte, bem alto, como se quisesse realmente me fazer correr pra janela.

Espera.

Fui até a janela e sabe o que vi? Não vi só um passaro, mas uma revoada de vários deles, sobrevoando a casa dos meus pais. O céu não é dos mais lindos que já vi, porque está bem cinza, chove aquela chuva bem fininha, mas a cena é linda. Imaginem dezenas de pássaros felizes voando ao redor da casa. E de vez em quando volta aquele passarinho a cantar bem forte aqui perto da janela.

Agora, diz aí, tô louco, ou é mais um lindo sinal de que meu pai tá bem, lá pertinho de Deus, passando o relatório de tudo que precisa ser aprimorado aqui embaixo? E ainda, cuidando de cada passo de cada uma das pessoas que ele amou nessa vida. E ainda ama. Porque o amor não se dissipa nem com a morte.

música de hoje

Ando cantando ela como se fosse um mantra.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

chove

Enfim chove aquela chuva de lavar a alma, como dizia meu avô. Chuva que atravessa o solo quente e seco e vai molhar a seiva. Não é chuva forte, de destruir. É chuva intensa, de alimentar a vida.

E exatamente às 18h35min...mesma hora em que meu pai faleceu, mas dois dias depois, eis que rompe dos céus um raio, sem aquela estrondosa trovoada. Só o raio que iluninar o céu, bem próximo da janela aqui de casa.

Já é noite nessa primavera estranha com cara de outono. Mas não é noite vazia. É noite de seguir em frente. Noite de passar por mais uma nova etapa da vida. Vida que muda de sentido. Aliás, muda o jeito de ver as coisas e por isso muda o sentido.

segunda-feira sem sol

Acordei com uma estranha sensação. Meu pai se foi, mas já está aqui. Na verdade, mesmo quando estávamos distantes, sempre sentia ele por perto. E agora tenho a mesma sensação. Ele tá distante, em algum lugar que desconheço, mas sei que é perto de Deus, e mesmo assim sinto ele pertinho, cuidando e zelando por todos os passos.

A despedida em um velório nunca é fácil. Mas sabe por que foi tranqüila? Porque todas as pessoas (e tinha tanta gente, que só demonstra o quanto ele era uma pessoa querida e amável) só diziam coisas lindas sobre meu pai. E tanta gente que nunca vi na vida. E tanta gente dizendo coisas que me emocionaram. E tantos dizendo que ele havia sido um pai pra eles. Me sinti com ainda mais orgulho do meu pai. E eu que achava que já sentia tanto orgulho por ele. Senti ainda mais.

Tantas flores que chegavam e não cabiam na sala. Tantas homenagens. Tantas pessoas dizendo que é cedo, que ele tinha tanto por fazer ainda aqui, mas todos venerando a vida do meu pai. Todos orgulhosos de terem convivido com o meu pai. Todos exaltando o homem batalhador que ele foi, que nunca se deixou abater por nada nessa vida, não tinha inimigos, nem desafetos. Porque não guardava mágoa de ninguém. Nunca.

Foi bonito ver como pessoas de "mundos" tão diferentes foram lá ver meu pai. Tinha desde um motorista de camninhão da antiga empresa que meu pai ajudou a transformar em uma das mais importantes do país, passando pelo pintor da nossa casa, chegando até ao presidente da CIC. E no meio disso tudo, cineastas, empresários, artistas plásticos, cientistas, advogados, professores, DJs, políticos, gente que bota a mão na massa, jornalistas, médicos. Acho que só não tinha astronauta. Mas gente que vive no mundo da lua, sim.

Como foi bom ter sentido só olhares de gratidão e de amor. Muitos de saudade, que vai ficar pra sempre. Pai, fica bem ao lado de Deus. Estamos bem por aqui. Eu já vejo tudo diferente. Quase nada mais faz o mesmo sentido de antes. Obrigado por mais essa lição de vida, e em vida. Amar o que se faz, é uma delas. E como diz o tio Castilhos, pai do Rica:

- Só segue o exemplo do teu pai, mais nada. Só segue o exemplo dele.

Obrigado por tudo, a todos.
um beijo

Até logo.

domingo, 12 de outubro de 2008

rèquiem

"É tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você
E de tanta gente que se foi
Cedo demais"


As frase são de Renato Russo, mas cabem agora, dentro dessa madrugada veloz, como uma luva. Parece terem sido escritos para o dia de hoje. Parecem ter sido escritos para o Cláudio, o meu pai-herói. Foi cedo, bem mais cedo que desejávamos. Mas se foi cedo é porque fez aqui muito, mas muito mais do que quase todos. E se foi cedo é porque fez tudo o que tinha pra fazer, e fez BEM FEITO.

Amou com mais intensidade e entrega do que qualquer poeta um dia sonhou. Foi cedo. Talvez cedo pra gente. Não pra Deus que ansiava pelo dia em que pudesse enfim conhecer o maravilhoso Cláudio. Deus estava louco pra conhecer o homem que, na sua simplicidade, transformou não só a sua vida, mas a vida de muita gente.

Cláudio semeou aqui o que muitos jamais sonham existir. Meu pai fez aqui o que muitos sequer imaginam que é possível de se fazer. Meu pai não é só talvez o último romântico, mas quem sabe um dos últimos humanistas, na essência da palavra.

Pois é, Deus só podia querer conhecer logo esse filho que teve uma missão tão linda aqui na Terra. Pai te amo. E fico tão feliz de ter podido dizer isso tantas vezes e sempre com convicção e olho no olho. Até o último minuto, com aquele brilho lindo no olhar. Brilho que dizia até logo, meu filho.

A benção, pai.

Com amor, teu filho.