terça-feira, 2 de janeiro de 2007

rátátátá

"Mãos para o alto". E não é rap dos Racionais. O Lula diz que é terrorismo. O novo governador do Rio, o Cabralzinho, acha que é o Lula que tá fazendo terrorismo. Pobre Rio de Janeiro, cidade maravilhosa, sede dos jogos Pan Americanos de 2007, ser tachada de cidade baderneira, cidade que desencadeia ondas de arrastão e esse negócio de queimar ônibus.

Mas sabe que esse negócio de queimar ônibus, dizem os paulistas, é coisa de carioca enrustido. Que mania tem, dizem os paulistas, de copiar tudo que São Paulo faz. Até as cagadas e a incompetência da polícia, carioca copia de paulistas. Mas isso é paulista que diz. Porque os cariocas dizem que faziam isso a muito tempo. Tempo em que o 38tão era arma impôr medo e conseguir umas gatinhas na favela.

Falando em favela. O Andriano Duarte, repórter de segurança do jornal Pioneiro, publico matéria hoje, no Pioneiro, traçando um mapa do tráfico de drogas em Caxias. O sociólogo responsável pela pesquisa que embasou a reportagem acredita que, se a prefeitura de Caxias não tomar providência, logo logo a cidade terá os visatão pegando fogo por aí.

Na Globonews não se fala de outro assunto. Não o tráfico em Caxias, mas do caos no Rio de Janeiro.

Enquanto isso, mais um ônibus é incendiado. O governador, o Cabralzinho, pede que as Forças Armadas dêem um jeito nisso...

A guerra civil brazuca segue fazendo estrago e levando gente como Lula e Cabralzinho adiante.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

o natal da dona adelaide

Dona Adelaide sorri. Aquele riso descomedido, como se voltasse àquelas sessões de matinê. Naquele tempo Porto Alegre tinha menos carros e ônibus e o vai-e-vêm das pessoas acompanhava a cadência do lamento de Lupicínio, quanto muito o choro de Pixinguinha. Nada dessa zoeira, zumbido e ziguezague desenfreado rumo a todo lugar e ao mesmo tempo lugar nenhum. Apoiada na soleira da janela da casa erguida na Chácara das Pedras, Dona Adelaide sorri.

As pernas não têm a mesma força de antes, quando passeava pela cidade de braços entrelaçados com as amigas Julieta e Ester. O tempo lhe tirou um amor aqui, outro ali, mas nunca o encanto pela vida. Nunca o gesto afável, o olhar doce, o sorriso de menina. Dona Adelaide tem 85 anos. E, se Deus quiser, vai passar o Natal em Caxias do Sul. Não promete um brinde caloroso, porque a bebida pega fácil.

– Só um golinho de champanhe porque fico tontinha. Eu gosto mais de cerveja preta, aquela bem docinha – revela, de cantinho.

O Natal da Dona Adelaide começou a duas semanas quando aceitou o convite da neta Patrícia para vir a Caxias. A ansiedade é só mais um dos muitos motivos que Adelaide tem para sorrir. Nem sabe o que a espera. Não sabe sequer onde vai dormir. Não sabe em que lugar da mesa farta vai sentar. Não sabe se terá champanhe ou cerveja preta. O futuro não a preocupa. Dona Adelaide tem fé.

– Se Deus quiser, se Deus quiser vou a Caxias.

O melhor presente para Dona Adelaide seria um maiô rosa. É sério, não é piada. O maiô rosa lhe transportaria para o dia do casamento. Dona Adelaide ganhou um maiô rosa, mas nunca pode usá-lo. Por implicância de uma tia pudica (e insensível), trocou o lindo maiô rosa por um vestido que cobrisse os joelhos. Esse novo maiô rosa ela também não precisa usar. Poderá contar aos bisnetos e trinetos que o triste fim do maiô rosa ganhou um novo capítulo no Natal de 2006.

– Vivi coisas tão bonitas, né?

Viverá outras mais, querida Adelaide. Começando por esse Natal.

o último beijo

Pior do que fim de ano é desgosto, tapa na cara, camisa rasgada e encharcada de champagne. Valéria, loira, 23 anos. Vilmar, cabelos castanho claros, 29. Valéria é sonhadora, ou como dizem as amigas invejosas, quer marido rico e uma coroa de rainha. Vilmar é rico, mas trabalha.

Valéria faz aulas de desenho e pintura no intervalo de um desfile e outro para uma grife local. Na verdade, ela desfila uma vez por ano. Faz por caridade. As amigas invejosas dizem que nada é por caridade, só mídia mesmo. Vilmar passa seis meses viajando pelos países sofridos da África. Leva a utopia da cura e um punhado de carinho.

Valéria tinha de casar antes de ficar velha. Antes do fim da mesada, antes de precisar trabalhar. Graças a Deus Vilmar lhe caiu do céu. Vilmar é romântico, compra flores sempre na mesma floricultura, brinda o amor com o mesmo encanto da primeira noite. Valéria não faz teatro, mas é boa atriz. Ama ser paparicada, ama os presentes, das pequenas jóias, àquele carrão novinho em folha.

Vilmar jamais era citado em coluna social, mas bastou anunciar o casamento com Valéria para virar figurinha fácil. Vilmar nasceu em berço de ouro, mas dispensa os holofotes porque, como diz sua mãe, gente chique não se expõe. Vilmar ama Valéria. Valéria ama a mídia. Valéria troca o carinho de Vilmar por presentinhos e bem-estar. Prazer, dizem as amigas invejosas, ela busca em quartinhos escuros, portinhas escusas de danceterias e por aí mesmo.

Mas um dia o amor acabou. Aliás, o casamento acabou. Pobre daquela gente que virou padrinho e testemunha de um dos enlaces mais badalados da cidade. Que mico, hein?. Tava demorando, grita o coro de amigas invejosas. Amor, se teve, era unilateral. Mas não tem problema, traição não dá cadeia. Era um garotinho tão gostosinho, conta uma das amigas invejosas.

Nesse Reveillon Vilmar vai brindar o amor com champagne e caviar. Vilmar é romântico e nunca perde o encanto pela vida. Valéria continua loira, quer marido rico e coroa de rainha. Vai brindar daquele jeito-jeca: "Uhu, gurias".