terça-feira, 19 de junho de 2007

primeiras impressões de 'Saneamento Básico, o Filme'

foto: Leopoldo Plentz, divulgação



Pra quem tá bem lôco querendo saber como é o novo filme do Jorge Furtado ("Saneamento Básico, o Filme"), eis abaixo trechos do texto postado no blog do Estadão, pelo crítico Luiz Carlos Merten.

"Reconheço que talvez vá cobrar de Jorge Furtado uma coisa que ele não quer. Jorge fez um dos grandes filmes do cinema brasileiro, não importa que seja um curta - "Ilha das Flores". A expectativa que ele gerou, a partir daí, pelo menos para mim, ainda não foi satisfeita. Jorge tem feito filmes que me parecem de turma, na Casa de Cinema. "O Homem Que Copiava" era uma coisa mítica. Há anos se falava que ele queria fazer o filme. No intervalo, Jorge fez rapidinho "Houve Uma Vez Dois Verões". É outro filme de turma, com o filho, os amigos, e para mim é melhor! É o meu longa preferido dele. Jorge é um cara inteligente, não raro brilhante. Integrei a comissão da Petrobrás que avaliou o roteiro de "Saneamento Básico" e votei para que fosse selecionado.
(...)
Jorge é inteligente, mas esses filminhos de mercado que a gente mal vê e já esquece me cansam, confesso. Comparem com "Lisbela e o Prisioneiro", que eu sei que muita gente não gosta. Existe ali um desenho de personagem que me atrai. Eu fico com Lisbela e Leléu no fim da projeção. Carrego Débora Falabella e Selton Melo comigo. Posso achar a Camila nota 10, a Fernanda Torres idem, mas "Saneamento Básico" é 5. Não é para ser do contra. Espero que faça sucesso. Só me deixem fora dessa. Não vou dizer que é maravilhoso, porque não me parece".

Globo Filmes, divulgação

À propósito: A cena final de "Lisbela e Prisioneiro" carrego no colo como imagiário do cinema. Por todo o sempre. E, amém.

domingo, 17 de junho de 2007

ousadia tem cheiro de estranheza


Bem-vinda estranheza, sobretudo se vier da televisão. Dizer que A Pedra do Reino, microsérie exibida entre terça e sábado da semana passada, na Rede Globo, subverte a linguagem da televisão é chover no molhado. A importância desse novo projeto do diretor (e visionário) Luiz Fernando Carvalho só será medida quando propostas como A Pedra do Reino desaguarem por todas as emissoras de televisão do Brasil.

Porque televisão não pode ser só um aparelho que mastiga fórmulas ultrapassadas e segue idiotizando as pessoas para todo o sempre e amém. A televisão precisa ser uma janela para a fantasia, para o absurdo, para o sublime. Não cabe mais nessa telinha o beijo do mesmo gosto. É preciso dar vazão a virulência de gente como Carvalho, que traz as infinitas cores do cinema para dentro da televisão.

Porque a saída do cinema no Brasil é invadir a televisão. Já que os filmes da novíssima leva de cineastas não chegam ao público, por mil e um motivos que não cabem em 25 linhas de texto, a saída é invadir a televisão. Carvalho fez isso. Depois da luta descabida por levar aos cinemas do Brasil o filme Lavoura Arcaica, que tinha apenas cinco cópias, Carvalho encontrou na televisão a nova morada da sua fértil imaginação.

Depois de A Pedra do Reino virão ainda outras três microséries: Dois Irmãos, Capitu e Dançar Tango em Porto Alegre. Espero que sejam obras tão abertas como A Pedra do Reino. Obras que permitam a fruição de cada espectador, com suas angústias e limitações. Que tenham o mesmo gosto da estranheza dos filmes de Glauber Rocha, Dziga Vertov e Andrei Tarkovski, inspiradores das narrativas de Carvalho.