sexta-feira, 28 de setembro de 2007

o brasil vai com cao hamburger tentar ganhar o oscar

O ANO EM QUE MEUS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS*
de Cao Hamburger
A história de Mauro (Michel Joelsas) um menino apaixonado por futebol que vai passar as férias na casa do avô, mas sente muita saudade dos pais. Essa é a melhor, e mais singela, definição para "O Ano em que Meus Pais Sairam de Férias", filme de Cao Hamburger. O pano de fundo é o Brasil em 1970, às vésperas da Copa do México. Tempo da ditadura dos fuzis e da polêmica se Tostão poderia jogar como um terceiro atacante no vibrante time brazuca.

"O Ano", diferentemente de outras produções sobre a ditadura no Brasil, como "Cabra Cega", "O que é Isso Companheiro?" e "Quase Dois Irmãos", é despretensioso. Não tasca na cara do espectador o discurso panfletário. Não quer rediscutir o trauma daquele passado delicado. E por isso mesmo, "O Ano" é um filme inquieto e provocativo. Atrai menos pelas rajadas de fuzis e raiva da militância de esquerda, e mais pelo olhar de Mauro, que flerta entre a solidão e a descoberta do desejo.

Antes que alguém grite lá do fundo da sala, "O Ano" não é um filme para criança. É sobre crianças. É sobre as descobertas de um garoto e como elas se equivalem para os outros personagens do filme, e por conseqüência, aos espectadores. Aliás, que roteiro bem amarradinho escrito por vários colaboradores, entre eles, a valorosa contribuição de Bráulio Mantovani (Cidade de Deus). Descobrimos junto com Mauro, que há mais gente engajada na resistência aos militares do que se imaginava. Mauro nos empresta seus olhos ainda para desvendarmos a cultura judaica, herança do avô (Paulo Autran).

Mesmo com tantas entrelinhas e sub-textos, em nenhum momento o filme desanda. A excelente reconstituição, desde pequenos objetos de cena, bem como automóveis, roupas e moradias, sustentam a verdade dessa história de mentirinha. Como está dito lá em cima, não espere um tratado recheado de citações intelectualóides. Não espere também ver o Zé Dirceu pegando em armas. "O Ano" é um filme para ver comendo pipoca. E mais, para ver Mauro descobrir como a vida pulsa além da janela do Fusca azul.

* Texto publicado na revista Almanaque em março de 2007.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

a banda do ano

Sábado à noite. A chuva enfim dava uma trégua. No estacionamento da Yes Music Hall cerca de 3,5 mil pessoas aguardavam ansiosamente pelo show da NX Zero. Tinha menina de salto alto e cabelo com chapinha, mas também tinha menina de jaqueta de jeans rasgada e piercing na língua. Em comum, a identificação com as letras das músicas desses cinco rapazes paulistas. Algo como: “essa música é a minha vida!”.

Larissa Leidens da Silva, 14 anos, era mais uma dessas meninas muito ansiosas por ver ao vivo a NX Zero. Larissa conheceu a banda ouvindo o CD “NX Zero”, lançado em 2006. De cara se apaixonou pelos caras que compuseram “Conseqüência”. A música não foi feita pra ela, mas é como se fosse, porque sublinhou muito bem uma estranha passagem da sua vida.

- Ouvi “Conseqüência” e me fez lembrar na hora do que tinha me acontecido – sorri, sem deixar pistas do que ocorreu.

Larissa só não sabia que a banda abriria o show tocando a sua música, ou melhor a canção que diz tanto sobre a sua vida. Esses caras de 20 e poucos anos (bem poucos mesmo), sabem muito bem o que dizer pra meninos e meninas como a Larissa, que começam a lidar com essa vida estranha vida, como diz a letra: “Eu nunca tenho certeza que estou / Totalmente certo ou realmente perto do que sou / Mas vou tentar “só viver” talvez assim na hora certa / Vou saber o que fazer e no que acreditar”.

Se alguém ainda tinha dúvidas de que a NX Zero é a “banda do ano”, como Charlie Brown Jr., Pitty e CPM22, foram em outros anos, precisava ouvir duas músicas apenas para dar o braço da torcer: “Razões e Emoções” e “Além de Mim”. As música inteiras, repito, inteiras, foram cantada com a ajuda da gurizada, aos berros. Larissa parecia não acreditar, mas eles estavam ali, pertinho dela. Desde sábado, sempre que ela vestir o All Star preto rabiscado com caneta nas bordas, aquela calça jeans com a camiseta vermelha e a jaquetinha de capuz, Larissa vai se lembrar do show de sábado.

Até quando? Tão incerto quanto os próximos passos da banda. Porque talvez em 2008 outros venham a ser “a banda do ano”. Larissa torce para que os caras da NX Zero continuem a compor músicas como se fossem pra ela. Como diz “Razões e Emoções”: “É que às vezes acho que não sou o melhor pra você / Mas às vezes acho que poderíamos ser / O melhor pra nós dois”. Ou como escreveu o poeta Vinicius de Moraes: “Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. E sem bis a NX Zero se foi.

* show do último sábado, em Caxias.