sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

enquanto isso, no brasil...

Enfim um bom motivo pra encarar um show do Rolling Stones. O problema é que eu teria de ir pros EUA. É que o Queens of the Stone Age - uma das bandas mais interessantes pós 2000 - vai tocar com os amigos do titio Mick Jagger em duas noites: 4 de março em Las Vegas e dia 6 em Los Angeles.

Enquanto isso, no Brasil...Stones na beira do mar. Entre Carnaval e show do Stones, prefiro lamber o freezer do refrigerador.

quem sabe

Talvez eu compre. Quem sabe. Compraria pelo Xico Sá. Talvez me surpreenda com algum outro colaborador. Mas aí vejo que tem o Leo Jaime (que parece o Maradona mais gordo) e desisto. Na real, quem tinha de desistir era o Leo Jaime. Primeiro, porque ele não está mais nos anos 80, se alguém tiver o telefone dele, ligue e avise-o. E, segundo, que ninguém mais se preocupa com ele.

Quem sabe, se um dia desses, num final de tarde eu ver o livro na estante da livraria do Arco da Velha, talvez eu compre.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

samba da bênção

Nessa procura louca, surda e desesperada por alguma boa surpresa nos cinemas de telas vazias, enfim avisto a luz no fim do túnel. E essa luz é Vinicius de Moraes. O documentário sobre o poeta e etc., dirigido por Miguel Faria Jr. estréia sexta-feira, no GNC/Iguatemi, sala 5. Não é curioso, como uma companhia exibidora que só deseja o lucro - e nada mais do que o lucro - tenha a sensibilidade de exibir um dos filmes mais aguardados?

Se o filme é bom, ruim, excelente, ou uma bosta, ainda não sei. Não vi, mas vou assistir. Porque já não aguento mais varrer as prateleiras das locadoras. Ando revendo mais do que assistiando a filmes novos. Ou tu acha que vou perder a chance de ver o Chico Buaque e o Ferreira Gullar falando sobre o poetinha. E mais, que eu perderia as valiosas imagens do Vinicius bebericando uísque e sorrindo, como se a vida fosse só alegria.

"Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não"


A quem não assistir, meus pêsames. Pode deitar. E bons sonhos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

o dedinho gordo no gatilho

Num dia desses de outono, em 1943, nascia numa das ruelas de Paris, Hervé Villechaize. Os anos passaram e ele não cresceu nada. Ou quase nada. Na escola, o petit era motivo de chacota. Mas por essas e outras – já conto sobre as outras – Hervé se tornou um dos parisienses mais populares da década de 70. O grande trauma da sua infância teve início num fatídico Natal em família.

Um tio solteiro, meio bêbado e meio dado a libertinagens com crianças beijou Hervé depois da meia-noite, quando todos já estavam embebecidos de vinho e champagne. O petit ficou assustado, não dormiu. Anos mais tarde revelou durante uma entrevista a uma revista americana que teria sentido um delicioso prazer depois daquele beijo. Um prazer de doer o peito.

Daquele dia pro resto dos seus dias amor e desejo sempre seriam sinônimos de dor. Saindo da adolescência, e ainda com 1m47, conheceu Laura, uma mulher de 1m75, olhos claros, pele alva e sorriso encantador. Apaixonado, fugiu de casa e agarrou a pequena com todo o tesão do mundo. Pra seu desgosto, aos poucos ela se revelava uma praticante de sadomasoquismo. O "casamento" durou um ano. Um tapa na cara e um "fuck you" selaram o "fim de um romance banal", como mais tarde o próprio anão descreveria o amor por Laura.

Nesse período, Hervé já fazia um certo sucesso no cinema. Mas só em 1974 ele teve a chance de encarar um grande papel (sic). O Homem da Pistola de Ouro (The man with the golden gun), narrava mais uma aventura do agente secreto 007, que em meio a uma e outra fuga dantesca, transava por aí com uma ou outra bondgirl. Pra quem não lembra, nesse filme Hervé interpretava Nick Nack, o capanga mortífero de Francisco Scaramanga (Christopher Lee). Hervé era uma espécie de Zacarias-do-mal.

Depois do tapa na cara, do amor se esvaindo boeiro abaixo, e do sucesso em O Homem da Pistola de Ouro, Hervé alcançou a glória absoluta na série de televisão Ilha da Fantasia (Fantasy Island, 1977). O personagem do petit era o Tatoo, uma espécie de ajudante do faz-nada milionário Sr. Roarke (Ricardo Montalban, um ator mexicano de terceira categoria que vive sonhando com a reedição de Ilha da Fantasia).

Na série, Hervé andava de um lado a outro colhendo flagras dos visitantes da ilha e fofocando ao patrão. Uma espécie de Nélson Rubens que não cresceu. O texto do anão era tão curto quanto suas canelas inchadas. Sua frase mais importante era: "Mr. Roarke, the plane! the plane!". Como era um anão subalterno não comia ninguém e não tinha motivo algum para sorrir, mas então porque sempre sorria momentos antes do intervalo comercial, quando enquadravam seu rosto em close?

Há duas explicações coerentes, que na real se entrecruzam. O sucesso fez de Hervé Villechaize um homem bonito, atraente, desejado e com uma boa poupança. O resultado? Mulheres e mais mulheres, das divas da Broadway às empregadas da zona sul carioca, todas desejavam ver o tamanho do talento do francesinho. E com as mulheres, noitadas, dias sem dormir, farras – sempre regadas a doses de álcool e drogas. Essa sbórnia durou seis temporadas. Hervé não sentira tamanho prazer e dor desde a adolescência, na época em que se deliciava com os beijos do tio às escondidas.

Em 1983, o início da queda. O petit exigiu o mesmo cachê de Montalban quando da renovação do contrato. Nada feito. Hervé fora demitido sem o menor pudor, desprezado como um caroço de azeitona. A série não durou um ano sem o anão. Deixado às traças, as mulheres afastaram-se do petit, agora uma ex-celebridade. Num repente ele voltou a ser feio, baixinho, broxa e veado. A bebida, parceira de festas e orgias em anos passados, havia se transmutado na sua única e inseparável companhia.

Sem trabalho, sem mulheres, e depois do falecimento do tio, o ator reclamava de Hollywood – que só queria lhe dar papéis de anão (sic). Em 1993, aos 50 anos e sozinho, resolveu os problemas num estopim. Carregou de balas um revólver semi-novo e disparou contra a própria cabeça. Entre migalhas de cerebelo espalhados pelo chão, havia um copo de uísque quase vazio. Antes do gelo derreter, morreu. Assim pretendia espantar de vez a dor que o perseguiu em todos os momentos de prazer. Enfim, pode amar em paz.

da série: demência nossa de cada dia

Eu disse. Eu disse que lamber
o asfalto quente não daria em nada.

no escurinho do cinema

Desde quarta-feira passada venho sendo abordado em função da reportagem publicada no Sete Dias, sobre a programação de filmes em Caxias. No café, na livraria, por telefone, e-mail – fui até convidado pra participar de um programa de rádio, na segunda-feira –, de todos os cantos perguntam a minha opinião sobre o assunto.

Antes de mais nada, só discuto a programação dos filmes da sala Ulysses Geremia (Centro de Cultura Ordovás), porque é pública, e UCS Cinema, porque é uma universidade, espaço de discussão e teoricamente, o berço do saber. Não me interessa o que os cinemas de shopping venham a exibir, porque, como empresas privadas, querem só lucro. E estão no seu direito.

Entendo as dificuldades enfrentadas pelos ex-coordenadores dos cinemas da UCS e Ordovás. Negociar com distribuidoras de filmes não é nada fácil. Mas não posso aceitar que toda e qualquer pessoa que esteve ou esteja ocupando esses cargos aceite ser manipulado pela falta de visão daqueles que pagam seus salários.

Porque 2005 foi o ano mais fraco da curadoria de filmes do Centro de Cultura, em comparação ao melhor período, de 2002 a meados de 2004, em que se viu na tela, entre outros, filmes de David Lynch e Luiz Fernando Carvalho, só pra citar dois cineastas inventivos. Enquanto isso, na UCS, 2005 foi o melhor ano, mesmo assim, ficou longe, distante anos-luz dos melhores anos da programação do Ordovás.

Todas as justificativas para a falta de uma programação alternativa apontam que esse "tipo de filme" tem uma baixíssima aceitação. Como se esse "tipo de gente" que gosta de assitir cinema de verdade fosse de outro planeta, repulsivos e gosmentos.

Na minha opinião (aí está o que pediram) o erro não está na escolha, mas em tudo o que andam desprezando. Porque eu já vi gente empilhada, abarrotando mais de uma sessão, pra ver uma seleta de curtas-metragens de diretores caxienses. Como repetir esse interesse? Bom, aí é querer demais, porque há segredos nessa vida que não se conta nem ao melhor amigo.


p.s.: crônica desta quarta-feira no Pioneiro

terça-feira, 31 de janeiro de 2006

and woody goes on

Quanto vale uma indicação ao Oscar? Não sei. Não conheço ninguém que trabalhe na Sony, Warner, ou Dream Works. O que importa é o descaso de Woody Allen para com a Academia. Nem mesmo a indicação para o Oscar de Melhor Roteiro por Ponto Final mudam o humor desse velhinho simpático, um tanto esquizofrênico, e sempre interessante.

Fiz um ctrl c + ctrl v em uns trechos de uma entrevista de Woody Allen, concedida ao jornalista Sérgio Dávila, da Folha de São Paulo. Lucidez é coisa rara. Salve Woody.

Folha - Hollywood não o está tratando direito?
Allen - Até que eles me tratam bem, quando acham que eu posso trazer dinheiro para eles, o que nem sempre é o caso. Mas eu nunca fiz parte do chamado sistema hollywoodiano, eu trabalho no "sistema nova-iorquino", ou seja, independente, sozinho. Acho, porém, que é justo que eles não queiram perder dinheiro num filme e só me dêem orçamento quando pensam que eu possa dar lucro. A indústria do cinema norte-americana sempre foi norteada por lucros, não tem nada a ver com arte ou conteúdo. Por isso que todo cineasta americano que se preze têm de sofrer.

Folha - Seu filme mereceu quatro indicações do Globo de Ouro; as indicações ao Oscar saem na terça-feira [amanhã]. O sr. se importa com prêmios? Dessa vez, iria à cerimônia da Academia? [Allen foi indicado a 20 Oscar; ganhou três; no primeiro, não apareceu na cerimônia pois acontecia no mesmo dia em que tocava clarinete com sua banda de dixieland, em Nova York.]
Allen - Não me envolvo muito nisso, geralmente não vou a esses eventos porque eu desgosto deles. Acontecem na Califórnia, eu moro em Nova York, tenho de pegar avião, viajar milhares de quilômetros, atrapalhar minha rotina, uma chatice, prefiro ignorar.Artisticamente, não significam nada, mas os estúdios acham que é importante para a bilheteria. Então, pode ser que eu vá, se me convencerem que aumentará a venda de ingressos...

versão sem cortes - 11 anos depois


Sorrisos de uma atuação caquética na sofrida adaptação de Fábio Barreto para o livro O Quatrilho

Quem lê o Pioneiro já sabe que enfim será exibido (1º de março) na tela da sala Ulysses Geremia, do Centro Municipal de Cultura, O Quatrilho, de Fábio Barreto. Enfim, porque mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer, mas bem que podia ter sido durante as minhas férias. O por quê disso? A explicação oficial: 10 anos do lançamento do filme. Só que na verdade, O Quatrilho foi lançado em 1995. Eu que rodei em matemática duas vezes, acho entre 1995 e 2006 tem 11 anos e não 10, mas enfim....

Só que o mais inacreditável dessa história é que o filme a ser exibido é uma versão particular, que o José Clemente Pozenato, autor de O Quatrilho, tem em casa. Essa versão tem cerca de 40 minutos a mais do que a montagem exibida em circuito comercial e não tem trilha sonora. Tem sempre um lado bom, que nesse caso é não ouvir o Caetano Veloso cantando Mérica, Mérica.

Ah, essas informações foram repassadas pelo Uilli, coordenador da sala de cinema Ulysses Geremia, que assim como eu, não viu essa versão particular de O Quatrilho.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006