quinta-feira, 8 de maio de 2008

cinema brasileiro em paris

Saguão do cinema L'Arlequin: tá vendo o cartaz do Lavoura Arcaica? Eu vi!
Então. Se não tiver o que fazer por esses dias e tiver a fim de encarar um vôo internacional, te sugiro Paris. Por mil motivos. E não tem nada a ver com Napoleão (se bem que...deixa pra lá). Tem a ver com cinema. Mas nada (dessa vez) com Truffaut e Godard. E sim, com a invasão de uma penca de filmes brasileiros na Cidade Luz.

E aqui o Philippe Barcinski emparedado

É que tá rolando por lá a 10ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, com exibições programadas para o Cinema L'Arlequin. A programação iniciou ontem, com a projeção de "Não por Acaso", de Philippe Barcinski, e segue até o dia 27 desse mês. E não é só de filmes que é feito o Festival de Paris, além dos 44 longas-metragens, haverá exposição de fotos, pockets shows e debates com os diretores.

O festival abriga diversas mostras especiais, além da competitiva. Confere aí:

Mostra Competitiva:
Não por Acaso, de Philippe Barcinski
Deserto Feliz, de Paulo Caldas
Incuráveis, de Gustavo Acioli
Maré, nossa história de amor, de Lúcia Murat
Mutum, de Sandra Kogut
Onde andará Dulce Veiga?, de Guilherme de Almeida Prado
Saneamento Básico, o Filme, de Jorge Furtado
Sem Controle, de Cris d'Amato
A Via Láctea, de Lina Chamie
Alucinados, de Roberto Santucci

Fora de Competição:
Ainda Orangotangos, de Gustavo Spolidoro
Bellini e o Demônio, de Marcelo Silva Galvão
Cidade dos Homens, de Paulo Morelli
Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho
Olho de Boi, de Hermano Penna

Noutro local, na Action Christine, ocorrem as mostras:

Grandes clássicos: Maio de 1968
Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade
Terra em Transe, de Glauber Rocha
Histórias Cruzadas, de Alice de Andrade

Homenagem a Roberto Farias : os clássicos
Assalto ao trem pagador, de Roberto Farias
Barra pesada, de Reginaldo Faria
Com licença, eu vou à luta, de Lui Farias
Pra frente, Brasil, de Roberto Farias
A Rainha Diaba, de Antonio Carlos Fontoura
Roberto Carlos em ritmo de aventura, de Roberto Farias
Toda nudez será castigada, de Arnaldo Jabor

Homenagem a Sílvio Tendler: Personagens que fizeram o Brasil
Jango
Os Anos JK - uma trajetória política
Glauber o filme - Labirinto do Brasil
Marighella, retrato falado do guerillero

E por fim, em Le Latina ocorre a mostra de documentários

Documentários do cinema brasileiro
Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho
Ninguém Sabe O Duro Que Dei - Wilson Simonal, de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal.
Encontro com Milton Santos, de Sílvio Tendler
O Coco, a roda, o pneu e o farol, de Mariana Fortes
Condor, de Roberto Mader
Estratégia Xavante, de Belisario Franca
Ginga, de Tocha Alves, Hank Levine e Marcelo Machado
Hercules 56, de Silvio Da-Rin
Mestre Bimba, a capoeira iluminada, de Luiz Fernando Goulart
Onde a coruja dorme? Bezerra da Silva, de Márcia Derraik e Simplício Neto
A Pedra do Reino, de Luiz Fernando Carvalho
Pindorama - a verdadeira história dos sete anões, de Roberto Berliner, Lula Queiroga e Leo Crivelare
Velhas Guardas, os encontros, de Joatan Berbel
Transocéan, de Adriana Komives

terça-feira, 6 de maio de 2008

o grande chefe

Até 1995 ninguém prestava atenção ou tinha a mínima curiosidade pelo cinema dinamarquês. Aí, um grupo de jovens realizadores de lá resolveu criar um manifesto. Então listaram 10 regras, chamaram de Dogma 95 e foram reconhecidos mundo afora, vez ou outra até com a chancela de importantes festivais como Cannes, na França. Dessa turma saiu o diretor Lars von Trier. É dele Os Idiotas, segundo filme do Dogma95, lançado em 1998, e ainda hoje um dos mais populares.

Dez anos depois, chega às locadoras brasileiras O Grande Chefe, produzido por Trier em 2006. Enquanto em Os Idiotas, a câmera disseca um bando de jovens abusando do humor negro em situações envolvendo portadores de Síndrome de Down, em O Grande Chefe, a foco da narrativa é idiotização do manda-chuva de uma pequena empresa afogada em incompetência e mágoas.

Um empresário da Islândia está prestes a comprar a companhia dinamarquesa, gerenciada por Ravn (Peter Gantzler). Mas a transação só será efetivada com a presença do Grande Chefe, até então uma figura mítica e desconhecida dos funcionários. Só que na real, esse Grande Chefe não existe. Era só uma forma de Ravn "domar" os empregados e dizer que todo mal ocasionado não era culpa dele, mas de uma entidade superior.
Só que o tal empresário da Islândia se nega a fechar negócio sem a presença do Grande Chefe. Eis então que Ravn tem uma idéia de gênio (aliás, de mané mesmo, risos), e contrata o ator Kristoffer (Jens Albinus) para fazer o papel de chefe. A comédia da história, não está só nas piadas, mas sobretudo na satirização da relação entre patrão e empregados. E tem mais, o ator passa a gostar da função de chefe e resolve atrapalhar os planos de Ravn.

O Grande Chefe parece mais uma revisão de rumos, como se Trier tivesse relendo sua carreira a partir de Os Idiotas, do que fiel às suas últimas produções como Dançando no Escuro (2000), Dogville (2003) e Manderlay (2005). Primeiro, porque resolve criar um novo método de realização. Ao invés de câmera na mão como em Os Idiotas (conforme as regras do Dogma 95), Trier fixa a câmera em um tripé e só trabalha com planos estáticos. Utiliza-se ainda de um recurso que ele chamou de Automavision. Ou seja, é o computador que seleciona a melhor posição da câmera e o enquadramento e não o diretor de fotografia.

Mas o discreto chame de O Grande Chefe é a narração em off do próprio Trier, que vê tudo (o filme e por conseqüência o seu cinema) do lado de fora do prédio da empresa. E logo no início Trier assume que O Grande Chefe é um filme estranho. Aos incomodados e insatisfeitos, uma pena terem desgostado. No entanto, quem se identifica com esse jeito bem particular de contar uma história banal, diz Trier, despido de qualquer modéstia: "é porque merece".

Comédia, Dinamarca, 2006, 100min.