terça-feira, 31 de julho de 2007

réquiem para um sonho

A morte de Michelangelo Antonioni é mais do que o fim de uma carreira. Antonioni era o último de um clã que surgiu para o mundo com suas investigações pelo neo-realismo italiano. Movimento estético surgido após o fim da Segunda Guerra Mundial por cineastas como Vittorio De Sica, Roberto Rossellini, Luchino Visconti, Federico Fellini e Pier Paolo Pasolini.

O mais notável desse período é que todos eles surgiram a partir do neo-realismo, mas cada um perseguiu seu estilo. Se Fellini transformava sonhos em filmes, Antonioni nos devolvia às angústias, medos e conflitos de encarar um mundo em veloz transformação. E sempre experimentando conceitos estéticos diferentes.

Não por acaso foi muito bem premiado Europa afora: A Noite (1961), recebeu o Urso de Ouro do Festival de Berlim (Alemanha); O Eclipse (1962), o Prêmio Especial do júri de Cannes (França); e O Dilema de uma Vida (1964), Leão de Ouro de Veneza (Itália) e Blow Up _ Depois Daquele Beijo (1966), Palma de Ouro em Cannes.

Com Antonioni se aprende que o amor dura mais do que a frivolidade de um beijo roubado; que à noite afloram sentimentos sinceros, nem sempre bem recebidos; que a memória é mais vigorosa do que a lucidez; e que a única certeza é divagar além das nuvens. E que assim seja.

Michelangelo Antonioni (1912 - 2007)


Ainda não sei o que dizer. É simples escrever não sei o que dizer. Mas ontem ainda (terça-feira) morreu o Antonioni. A família só informou hoje (quarta) à imprensa. No mesmo dia o cinema perde a investigação da alma por Bergman, e a inquietude de Antonioni.
Mais tarde eu volto.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Gritos e Sussuros



Meu Bergman favorito




Ingmar Bergman (1918 - 2007)


Ninguém que se arrisca a fazer filmes deveria comerçar sem antes devorar a obra de Ingmar Bergman. Sobretudo quem vê no cinema o trabalho de um autor, a reflexão humanista e a extensão da vida. E por ironia do destino é justamente por estes motivos que tanta gente se esquiva dos filmes de Bergman. Porque sem dó nem piedade ele expõe relações ora conflituosas, ora obsessivas e a incapacidade de lidarmos com a morte.
Querer escapar da identificação com suas histórias é driblar a inevitabilidade da finitude. Não é possível enganar a morte, nem mesmo depois de vencê-la em um jogo de xadrez. Bergman, entre tantas coisas, quer nos mostrar como a travessia por esssa vida depende da fragilidade das nossas escolhas. Lançados a toda sorte precisamos mover as peças com precisão antes que as más escolhas transformem-se em traumas irreparáveis.
Seja na vertigem de um grito ou na sutileza de um sussurro, Bergman coloca amados e traídos diantes do mesmo espelho. Não para desnudarmos as tragédias de cada um, mas para reconhecermos no outro o que negamos ser. Ou ainda como melhor explicou o cieasta francês Jean-Luc Godard: "Para Bergman estar só é se fazer perguntas; filmar é encontrar as respostas".