sábado, 3 de novembro de 2007

estrangeiro

O Zuzuwah é estrangeiro, mas tão estrangeiro, que suas músicas fazem cada vez mais sentido em Caxias. Não que elas não possam ser escutadas longe daqui. De fato, quem mais cola o ouvido na sua batida estranha, entrecortada com guitarras viajantes, e melodias de sopro assobiáveis, são os estrangeiros.

Gente que mesmo vivendo sob a neblina serrana está plugada numa sonoridade globalizada. Da fusão de estilos e gêneros, aparentemente dissonantes, mas que, reorganizadas, e bem trabalhadas, parecem ter surgido da mesma raiz. Como o jazz e o drum'n'bass, por exemplo. Originariamente distantes, mas primos bem próximos dessa pós-modernidade infernal. No bom sentido.

Zuzuwah, guitarrista da Cabaret Hitec (hibernando) e saxofonista da Grelhados Passam Voado e Bacon 27, ataca novamente com o projeto solo, sempre em versão demo, batizado de Complexo Shanghai. Depois das bolachinhas The Mandarin Sessions (2005) e Busking (2006), é a vez de The Revolution Sessions (2007).

_ O disco tem influência da relação de amor e ódio entre Estados Unidos e a América Latina, passando pelo populismo e demagogia de suas lideranças até chegar na ensolarada Califórnia _ divaga Zuzuwah.

Algumas canções do novo álbum estão no site www.myspace.com/coletivoshanghai. Quem quiser comprar a bolachina pode procurar na banca 29, do Camelódromo. Custa R$ 10.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

set

Depois do bem sucedido curta-metragem Ana Cristina Perdeu a Memória, que tratava da infância, Ana Luiza Azevedo, entra no set para as filmagens do seu primeiro longa, Antes Que o Mundo Acabe. Pedro Tergolina, protagonista do curta, volta, dessa vez para encarar o personagem Daniel.

O filme, que tem roteiro da Aninha, em colaboração com Paulo Halm, Giba Assis Brasil e Jorge Furtado, é baseado em romance homônimo, de Marcelo Carneiro da Cunha. Conta a história de Daniel, um garoto de 15 anos, que convive com a mãe e o padrasto, um amigo acusado de um crime e uma namorada que não quer saber de namoro.

A produção segue até 2 de dezembro em Taquara, Rolante, Santo Antônio da Patrulha e Porto Alegre.

o sentido do amor

O senhor que é homofóbico e não consegue imaginar o amor entre dois homens, não assista ao filme Felizes Juntos. Porque se depois dos primeiros minutos o senhor suspeitar que esse universo lhe é mais próximo do que pensava, vai sair por aí culpando o cineasta chinês Wong Kar-Wai. E o pobre diretor não tem culpa de nada. Ele vive do ofício de contar histórias de amor. Sem pudor, porque assim são as verdadeiras histórias de amor.

Felizes Juntos faz parte da Coleção Lume, organizada pela empresa maranhense Lume Filmes, que pretende lançar dois DVDs por mês de filmes contemporâneos, sucessos de crítica nos cinemas do Brasil, mas ainda inéditos em DVD. O filme chinês é o terceiro da coleção, que tem ainda Felicidade (1998), de Todd Solondz, Na Companhia de Homens (1997), de Neil LaBute, e Reconstrução de um Amor (2003), de Christoffer Boe.

A trama de Felizes Juntos é simples e nada original. É centrada em dois homossexuais, Yui-Fai (Tony Leung Chiu-Wai) e Po-Wing (Leslie Cheung), que viajam de Hong Kong a Buenos Aires à procura das Cataratas do Iguaçu, uma espécie de quimera para uma nova vida. Até aí, nada de incomum, porque tem uma penca de filmes parecidos. O grande lance do filme é a maneira como Kar-Wai desenvolve a história. O nome do filme, Felizes Juntos, é, na verdade, uma armadilha para o espectador, que pode ficar ansioso em ver Fai e Po felizes e juntos.

E é justamente a inconstância, a incomunicabilidade e os encontros arredios que jogam com o sentimento do espectador. Mais ainda porque os movimentos de câmera, os cortes das cenas, a alternância fugaz de música (ora Piazzolla, ora Zappa) e silêncio reforçam essa relação fragmentada e incompleta de Fai e Po. Porque no final de tudo, mais do que um filme de amor, Felizes Juntos trata do sentido do amor na vida de cada um dos personagens.

Felizes Juntos, de Wong Kar-Wai
Coleção Lume, drama, 93min, 1997.