sexta-feira, 20 de janeiro de 2006
meninos, eu vi!
Jornalismo investigativo é assim mesmo. Quando menos se espera a prova cai nas tua mão. Aí está a prova de que o Jê também veste fatiota. O Paco não parece ter gostado muito do look do pai. Má...va bene.
E você, o que achou?
quinta-feira, 19 de janeiro de 2006
espasmos de vertigem
Um tiro. Só. Mais nada. Além do apêndice rasgado e da bílis lavando as coxas...nada mais. Um impulso renegando a existência. O véu cobrindo a face.
Antes do tiro. Ali na cama, os dois enrolados entre lençóis amarelados pelo tempo. Ela muda, corcunda e paranóica. Recolhia bolinhas de plástico e as guardava numa caixa. Depois tirava-as e espalhava pela cama. E assim seguia, entre dias e noites como se pudesse afastar o medo da ausência. Ele duro, carne putrefata, olhos esbugalhados.
Cortina balançando, voando, alva, e pura, entrando e saindo da janela, indo e vindo pra espalhar a boa nova. Ele morto, ela louca. Nas paredes do quarto escritos, rabiscos – tudo em sangue, pra não sumir depois da demolição. Tudo seria lindo, não fosse o sermão das velhas em romaria gritando e gemendo uns versos tresloucados.
O tiro rasgou a porta. Era noite. Ela com a boca no falo. Ele deitado sorvendo o prazer. O pai traído. A mãe acariciando o filho cego, surdo, mudo e paralítico. Pau mole lambuzado de sangue e bílis. E a mãe seguia o ritual demente. De pau mole na boca sentiu o filho esfriar. Devolveu-lhe o sangue com um beijos nos lábios. A mãe espalhou as bolinhas de plástico pela cama.
E nasceu o dia. E mesmo depois da morte não havia vida sequer nos pulsos da mãe. Marteladas na porta. Silêncio. Aos poucos, vagarosa como a sombra da morte, um pouco d'água entrava por debaixo da porta. A água seguiu subindo, até o entardecer. Lavando tudo, inclusive o sangue embebecido nos lençóis, a angústia, a febre, os sermões. A mão que balança o berço já estava também debaixo d'água.
A água alcançava a altura da janela e corria pra parede abaixo manchando a tinta branca. Uma corredeira suja, fedorenta, amarga e venenosa. A mãe não suportou e mergulhou. Fechou os olhos, ouviu um coro de björks tristes e melancólicas e deu adeus. O filho não ouviu. O corpo ganhou escamas, braços e pernas viraram nadadeiras e ela seguiu corredeira abaixo. Rastejou pelo cordão da calçada e vazou pelo bueiro.
O filho acordou dois dias depois. Corpo envolto em tripas de porco, balançava ao vento num balanço estendido na copa de uma árvore encravada num bosque de fadas sem asas. Acordado, flutuou e foi acomodado numa cama de flores amarelas e perfumadas de campo. Recebeu a bênção de um unicórnio de chifre serrado e voltou a adormecer.
Acordou na mesma casa. Paredes lavadas. Levantou-se da cama e viu-se à imagem e semelhança da mãe, mas com pênis – herança do pai traído.
Antes do tiro. Ali na cama, os dois enrolados entre lençóis amarelados pelo tempo. Ela muda, corcunda e paranóica. Recolhia bolinhas de plástico e as guardava numa caixa. Depois tirava-as e espalhava pela cama. E assim seguia, entre dias e noites como se pudesse afastar o medo da ausência. Ele duro, carne putrefata, olhos esbugalhados.
Cortina balançando, voando, alva, e pura, entrando e saindo da janela, indo e vindo pra espalhar a boa nova. Ele morto, ela louca. Nas paredes do quarto escritos, rabiscos – tudo em sangue, pra não sumir depois da demolição. Tudo seria lindo, não fosse o sermão das velhas em romaria gritando e gemendo uns versos tresloucados.
O tiro rasgou a porta. Era noite. Ela com a boca no falo. Ele deitado sorvendo o prazer. O pai traído. A mãe acariciando o filho cego, surdo, mudo e paralítico. Pau mole lambuzado de sangue e bílis. E a mãe seguia o ritual demente. De pau mole na boca sentiu o filho esfriar. Devolveu-lhe o sangue com um beijos nos lábios. A mãe espalhou as bolinhas de plástico pela cama.
E nasceu o dia. E mesmo depois da morte não havia vida sequer nos pulsos da mãe. Marteladas na porta. Silêncio. Aos poucos, vagarosa como a sombra da morte, um pouco d'água entrava por debaixo da porta. A água seguiu subindo, até o entardecer. Lavando tudo, inclusive o sangue embebecido nos lençóis, a angústia, a febre, os sermões. A mão que balança o berço já estava também debaixo d'água.
A água alcançava a altura da janela e corria pra parede abaixo manchando a tinta branca. Uma corredeira suja, fedorenta, amarga e venenosa. A mãe não suportou e mergulhou. Fechou os olhos, ouviu um coro de björks tristes e melancólicas e deu adeus. O filho não ouviu. O corpo ganhou escamas, braços e pernas viraram nadadeiras e ela seguiu corredeira abaixo. Rastejou pelo cordão da calçada e vazou pelo bueiro.
O filho acordou dois dias depois. Corpo envolto em tripas de porco, balançava ao vento num balanço estendido na copa de uma árvore encravada num bosque de fadas sem asas. Acordado, flutuou e foi acomodado numa cama de flores amarelas e perfumadas de campo. Recebeu a bênção de um unicórnio de chifre serrado e voltou a adormecer.
Acordou na mesma casa. Paredes lavadas. Levantou-se da cama e viu-se à imagem e semelhança da mãe, mas com pênis – herança do pai traído.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2006
do the right thing
Filme di grátis no balcão do bar é a melhor coisa a se fazer nessa quinta-feira de verão glacial. Então, faça a coisa certa. Pegue o ônibus certo, sentido bairro Exposição, procure um prédio amarelinho (sic), enorme, encravado entre o Fórum e uma lavagem de carros. O lugar é o Centro de Cultura. Pode entrar, não tenha medo dos seguranças. Tinha um que batia nas pessoas mas ele não trabalha mais lá.
Dentro do prédio você irá encontrar um bar, de cadeiras coloridas, com um relógio-poema fincado na parede. Pronto, chegou. Escolha uma cadeira. Não tenha medo do Beto, ele só parece louco. O Jê, o careca, tudo bem que o Beto também é careca, mas ele tem como esconder que é careca, enfim, o Jê, o mais careca, faz um excelente caipira. O filme é di grátis, mas a bebida não.
Ah, sim, e o filme? Pois bem, Faça a Coisa Certa, do Spike Lee, mostra 24h de algum lugar do Brooklyn no dia mais quente do ano. A história ocorre em torno de uma pizzaria de uma família Ìtalo/Americana. No centro do bairro essencialmente de negros, a pizzaria só tem quadros de artistas brancos na parede - repare na foto acima que até o Papa João Paulo II tem seu lugar. Essa atitude dos donos da pizzaria provoca um certo (pra ser eufemista) desentendimento. O resto só vendo o filme.
Faça a Coisa Certa, de Spike Lee
Zarabatana Café, às 20h30min
Entrada franca
Dentro do prédio você irá encontrar um bar, de cadeiras coloridas, com um relógio-poema fincado na parede. Pronto, chegou. Escolha uma cadeira. Não tenha medo do Beto, ele só parece louco. O Jê, o careca, tudo bem que o Beto também é careca, mas ele tem como esconder que é careca, enfim, o Jê, o mais careca, faz um excelente caipira. O filme é di grátis, mas a bebida não.
Ah, sim, e o filme? Pois bem, Faça a Coisa Certa, do Spike Lee, mostra 24h de algum lugar do Brooklyn no dia mais quente do ano. A história ocorre em torno de uma pizzaria de uma família Ìtalo/Americana. No centro do bairro essencialmente de negros, a pizzaria só tem quadros de artistas brancos na parede - repare na foto acima que até o Papa João Paulo II tem seu lugar. Essa atitude dos donos da pizzaria provoca um certo (pra ser eufemista) desentendimento. O resto só vendo o filme.
Faça a Coisa Certa, de Spike Lee
Zarabatana Café, às 20h30min
Entrada franca
terça-feira, 17 de janeiro de 2006
quem será o próximo, eu ou você?
Recebi por mail informações sobre demência e repasso abaixo para que vocês saibam que em breve eu ou você seremos os próximos.
Relatório publicado na revista “THE LANCET” em sua edição de 17 de dezembro de 2005 informa que A DEMÊNCIA VAI QUADRUPLICAR. E os países em desenvolvimento vão ser os mais atingidos.
Um novo caso de demência aparece a cada sete segundos fazendo com que o número de pessoas com demência duplique a cada 20 anos, diz o artigo do The Lancet, uma revista científica médica publicada na Grã Bretanha. O relatório, produzido pela Alzheimer’s Disease International (ADI) é publicado 100 anos depois da primeira descrição da Doença de Alzheimer e estima que 24,3 milhões de pessoas têm atualmente demência, com 4,6 milhões de novos casos anualmente. Em 2040 esse número terá crescido para 81,1 milhões.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2006
a verdade sobre petit pois
Revelações bombásticas no blog da Madame.
"na verdade eu sou estrábica. todas as fotos onde apareço são corrigidas no computador. assim, tenho sucesso quando trovo guris na internet. é por isso que na maioria das fotos estou de óculos escuros".
"na verdade eu sou estrábica. todas as fotos onde apareço são corrigidas no computador. assim, tenho sucesso quando trovo guris na internet. é por isso que na maioria das fotos estou de óculos escuros".
jimi joe lança disco solo
Se alguém ouviu comenta aí.
Jimi Joe enfim lança seu primeiro disco solo. Saiu no finalzinho de 2005. Não ouvi ainda. Tô curioso. Vou encomendar numa loja pela Internet. Se o CD chegar antes de alguém de vocês comentar algo a respeito é porque vocês andam mais ignorantes do que eu - e isso é ruim. O normal sempre será minha ignorância vencer a de vocês de uma jeito arrebatador.
Pra quem sequer soube do lançamento o nome do CD é "Saudade do Futuro".
Leia a auto-entrevista aqui.
relembrando da quadrilha (título original: Cadê a fronha?)
O cenário é um bar de cadeiras coloridas. O relógio-poema marca 23h30min. No balcão, um casal em fim de carreira. Na única mesa ocupada, quatro amigos.
– Mais uma cerveja, Jê! – pede Jorge.
– O que é isso que tá tocando? – pergunta Marcelo.
– Tom Waits – diz Augusto.
– Esse disco é do inferno.– diz Jorge.
– Taí, essa poderia ser a interativa do programa: "Se você fosse DJ no inferno, qual música colocaria para recepcionar as pessoas?" – diz Marcelo.
– Boa, gostei!! – brinda Augusto.
– Tá, vô dá a barbada pra vocês. Acho que a gente não tem que entrevistar mais ninguém no programa – argumenta Cristiano.
– Demorô, também acho. – ri Augusto.
– Quando a gente começou o programa era pra ser só a gente, lembra? – questiona Cristiano.
– Tá, mas a gente quis testar e ver no que dava... – justifica Marcelo.
– Alguém criou o e-mail do programa? – pede Jorge.
– Sim, tá criado. A senha é Brizola. – responde Marcelo.
– E aquela mina... – ri Augusto.
– Que mina? – pergunta Cristiano.
– Aquela mina que pediu o e-mail da Wanessa Camargo? Será que ela escreveu? – ri Augusto.
– Eu entrei no e-mail e não tem mensagem nenhuma, ainda! – ri Marcelo.
– Mais duas, Jê. – pede Augusto.
– Putz, coitada da mina. – ri Marcelo.
– Tá, e o próximo programa? Acho que banda cover é um bom assunto – argumenta
Jorge.
– Banda cover é uma merda – ri Cristiano.
– Todo mundo toca as mesmas músicas... – reclama Augusto.
– Só tocam o DJ Avan – ri Jorge.
– Quem? – pede Augusto.
– O DJ Avan, o Djavan – ri Jorge.
– "Você deságua em mim e eu oceano" – ri Marcelo.
– Essa frase é muito ruim – ri Cristiano.
* Relembrando da Quadrilha traz à memória um momento interessante na vida de quatro mentes insanas querendo apenas rir de si mesmos e dos outros. O único deslize disso tudo foi que o referido programa de rádio ocupada um canal pirata desse Brasil varonil.
– Mais uma cerveja, Jê! – pede Jorge.
– O que é isso que tá tocando? – pergunta Marcelo.
– Tom Waits – diz Augusto.
– Esse disco é do inferno.– diz Jorge.
– Taí, essa poderia ser a interativa do programa: "Se você fosse DJ no inferno, qual música colocaria para recepcionar as pessoas?" – diz Marcelo.
– Boa, gostei!! – brinda Augusto.
– Tá, vô dá a barbada pra vocês. Acho que a gente não tem que entrevistar mais ninguém no programa – argumenta Cristiano.
– Demorô, também acho. – ri Augusto.
– Quando a gente começou o programa era pra ser só a gente, lembra? – questiona Cristiano.
– Tá, mas a gente quis testar e ver no que dava... – justifica Marcelo.
– Alguém criou o e-mail do programa? – pede Jorge.
– Sim, tá criado. A senha é Brizola. – responde Marcelo.
– E aquela mina... – ri Augusto.
– Que mina? – pergunta Cristiano.
– Aquela mina que pediu o e-mail da Wanessa Camargo? Será que ela escreveu? – ri Augusto.
– Eu entrei no e-mail e não tem mensagem nenhuma, ainda! – ri Marcelo.
– Mais duas, Jê. – pede Augusto.
– Putz, coitada da mina. – ri Marcelo.
– Tá, e o próximo programa? Acho que banda cover é um bom assunto – argumenta
Jorge.
– Banda cover é uma merda – ri Cristiano.
– Todo mundo toca as mesmas músicas... – reclama Augusto.
– Só tocam o DJ Avan – ri Jorge.
– Quem? – pede Augusto.
– O DJ Avan, o Djavan – ri Jorge.
– "Você deságua em mim e eu oceano" – ri Marcelo.
– Essa frase é muito ruim – ri Cristiano.
* Relembrando da Quadrilha traz à memória um momento interessante na vida de quatro mentes insanas querendo apenas rir de si mesmos e dos outros. O único deslize disso tudo foi que o referido programa de rádio ocupada um canal pirata desse Brasil varonil.
arritmia cacofônica
Febre. Espasmos de ironia. Vertigem. Olhar lânguido. Tristeza. Uma pequena fresta de luz. Suor. Lábios secos. Da cozinha ouço pratos caindo ao chão. O ruído alimenta a cacofonia doentia do corpo. O sermão do pai. Levanto da cama. Tranco a porta do quarto. Abro a janela. A rua está vazia. Clico no play do aparelho de CD. Um doce balanço eletro-orgânico silencia a angústia da cozinha. Gotan Project sintetiza a sutileza desse momento.
Sento no chão. Apóio a cabeça no pé da cama. Essa sonoridade me devolve a paz. Eu precisava disso pra varrer a apatia dessa mente insana, doente e feroz. De sopetão levanto e abro o armário. Não sem antes verificar se a porta do quarto está mesmo trancada. Com mais calma abro o armário. Ao fundo, atrás de um punhado de roupas velhas e casacos de inverno, está meu violoncelo.
Tiro-o com cuidado da capa preta. Acomodo-o no chão enquanto procuro o arco. Não está sobre o armário, nem sob a cama. Nas gavetas nada além de meias, cuecas, carnês de compras inúteis e poemas bêbados. No intervalo entre uma música e outra ouço uma porrada na porta. Me assusta. Assim que os primeiros acordes anunciam a nova música um novo murro na porta atropela meus sentidos.
Clico no stop do CD. O silêncio da dor se anuncia. Empunho meu violoncelo e deslizo o arco pelas cordas. Embrenhado da força e paixão do tango de Piazzolla e do tango envolvente do Gotan Project toco uma música repugnante e ácida. O tema central desse improviso, no entanto, é um fraseado sutil e estranhamente amoroso. É como se toda a minha febre se transferisse ao violoncelo. De olhos fechados sinto um bandoneon me seguindo. No intervalo desse tema acordes pesados de piano ajudam a decifrar esse tortuoso caminho que se anuncia.
Para onde vai essa música? Que delicadeza é essa desprovida de pudor? Delicadeza travestida de raiva delirante. Inquietude pra desarmar o sermão do pai. Encontrei a saída dessa enrascada: a sonoridade aparentemente desconexa e impiedosa traz um sopro de lucidez. O nome dessa arritmia cacofônica? Retrato de um Esquizofrênico Ainda Jovem.
* Escrito num verão desses...já publicado em outros lugares.
Sento no chão. Apóio a cabeça no pé da cama. Essa sonoridade me devolve a paz. Eu precisava disso pra varrer a apatia dessa mente insana, doente e feroz. De sopetão levanto e abro o armário. Não sem antes verificar se a porta do quarto está mesmo trancada. Com mais calma abro o armário. Ao fundo, atrás de um punhado de roupas velhas e casacos de inverno, está meu violoncelo.
Tiro-o com cuidado da capa preta. Acomodo-o no chão enquanto procuro o arco. Não está sobre o armário, nem sob a cama. Nas gavetas nada além de meias, cuecas, carnês de compras inúteis e poemas bêbados. No intervalo entre uma música e outra ouço uma porrada na porta. Me assusta. Assim que os primeiros acordes anunciam a nova música um novo murro na porta atropela meus sentidos.
Clico no stop do CD. O silêncio da dor se anuncia. Empunho meu violoncelo e deslizo o arco pelas cordas. Embrenhado da força e paixão do tango de Piazzolla e do tango envolvente do Gotan Project toco uma música repugnante e ácida. O tema central desse improviso, no entanto, é um fraseado sutil e estranhamente amoroso. É como se toda a minha febre se transferisse ao violoncelo. De olhos fechados sinto um bandoneon me seguindo. No intervalo desse tema acordes pesados de piano ajudam a decifrar esse tortuoso caminho que se anuncia.
Para onde vai essa música? Que delicadeza é essa desprovida de pudor? Delicadeza travestida de raiva delirante. Inquietude pra desarmar o sermão do pai. Encontrei a saída dessa enrascada: a sonoridade aparentemente desconexa e impiedosa traz um sopro de lucidez. O nome dessa arritmia cacofônica? Retrato de um Esquizofrênico Ainda Jovem.
* Escrito num verão desses...já publicado em outros lugares.
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