sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

o sonho da quase rainha

Em algum lugar do litoral norte, numa dessas praias de mar revolto, areia suja de cacarecos e vento nordestão, uma família feliz decide o futuro da filha.
– Mãe, tô estressada. Preciso descansar, de preferência bem longe daqui.
– Olha minha filha, eu também acho. Depois de cinco anos de faculdade você merece!
– Quer passar o Carnaval em Bombinhas? Papai aluga uma casa com piscina.
– Ai pai, Bombinhas?
– O que é que tem minha filha?
– Bombinhas tem tanto caxiense quanto aqui. Lembra que a gente foi no verão passado e a mamãe reencontrou as colegas do ginásio?!?
– Ah, sim a Lorena, a Evilásia, nossa quanto tempo eu não as via.
– Mãe, cala a boca...
– Respeito com sua mãe.
– Tá desculpa, mas é que vocês me deixam p* da cara. Eu preciso viajar, correr o mundo...
– Papai tem amigos em Pádova, na Itália...
– Pai, eu odeio a Itália. Não suporto gringo!
– Não suporta essa gringada, mas implorou pra concorrer à rainha da Festa da Uva, né?
– Sabe por que eu queria ganhar? Pra mostrar como deve se portar uma verdadeira rainha.
– Parem vocês dois. Que coisa feia, as pessoas estão olhando.
– Esse bando de véio tarado vem a praia só pra ficar babando mesmo...
– Chega minha filha. Afinal de contas, qual lugar você sonha conhecer?
– Londres...
– Londres? Nem morta.
– Por quê, pai?
– Filha minha não vai pra Londres trabalhar em bordel nenhum!
– Tá me chamando de p*, seu velho safado? Quer dizer que o senhor, um profundo conhecedor desse universo, reconhece no meu olhar um certo talento para a safadeza?
Depois de um tabefe na orelha, Laurinha recebeu o afago da mãe. A dois dias, Evaldo, amigo do pai, ligou avisando que vai tudo bem com a menina.
– Ela é uma menina especial. Esse duplo carpado inclinado tá fazendo o maior sucesso por aqui – revela.

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