Bem-vinda estranheza, sobretudo se vier da televisão. Dizer que A Pedra do Reino, microsérie exibida entre terça e sábado da semana passada, na Rede Globo, subverte a linguagem da televisão é chover no molhado. A importância desse novo projeto do diretor (e visionário) Luiz Fernando Carvalho só será medida quando propostas como A Pedra do Reino desaguarem por todas as emissoras de televisão do Brasil.
Porque televisão não pode ser só um aparelho que mastiga fórmulas ultrapassadas e segue idiotizando as pessoas para todo o sempre e amém. A televisão precisa ser uma janela para a fantasia, para o absurdo, para o sublime. Não cabe mais nessa telinha o beijo do mesmo gosto. É preciso dar vazão a virulência de gente como Carvalho, que traz as infinitas cores do cinema para dentro da televisão.
Porque a saída do cinema no Brasil é invadir a televisão. Já que os filmes da novíssima leva de cineastas não chegam ao público, por mil e um motivos que não cabem em 25 linhas de texto, a saída é invadir a televisão. Carvalho fez isso. Depois da luta descabida por levar aos cinemas do Brasil o filme Lavoura Arcaica, que tinha apenas cinco cópias, Carvalho encontrou na televisão a nova morada da sua fértil imaginação.
Depois de A Pedra do Reino virão ainda outras três microséries: Dois Irmãos, Capitu e Dançar Tango em Porto Alegre. Espero que sejam obras tão abertas como A Pedra do Reino. Obras que permitam a fruição de cada espectador, com suas angústias e limitações. Que tenham o mesmo gosto da estranheza dos filmes de Glauber Rocha, Dziga Vertov e Andrei Tarkovski, inspiradores das narrativas de Carvalho.
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