É impossível escrever sobre Árido Movie só como um filme, isolado do mundo, isolado da filmografia dos demais cineastas de Pernambuco. Árido Movie não é só o nome do filme de Lírio Ferreira, mas também o nome de batismo da produção cinematográfica dessa galera de Recife. É o mesmo que o manguebit para a cena musical da capital de Pernambuco, que lançou Chico Science & Nação Zumbi, mundo livre s/a., etc.
Lírio Ferreira é um desses cineastas que insiste em consolidar em Pernambuco uma carreira autoral _ mas nunca solitária. Com ele surgiram Paulo Caldas, Hilton Lacerda, Cláudio Assis, que encontraram no amazonense Marcelo Gomes, e no cearense Karim Aïnouz, mais do que parceiros, mas cúmplices na produção de filmes. A estréia em longa-metragem ocorreu em 1996, quando Ferreira e Caldas lançaram Baile Perfumado, vencedor dos princiais prêmios do Festival de Brasília daquele ano.
O mais interessante desse movimento é que os cineastas não se fecharam em apenas uma proposta estética. Não é como no Cinema Novo ou no Cinema Marginal, que estabeleciam uma espécie de cartilha de signos. Até existe uma certa relação entre os filmes, que de alguma forma procuram o mesmo: revelar a identidade cultural de Pernambuco. Mas é impossível encontrar uma relação profundamente estética entre Céu de Suely, de Karim Aïnouz, e Baixio das Bestas, de Cláudio Assis, por exemplo.
Árido Movie flerta com Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes. Mais pela viagem dos personagens por desterros do esquecimento, terras perdidas no meio do nada, do que pela história em si. Árido Movie conta uma conhecida trama marcada por crimes e vinganças. Mas com uma narrativa voraz, sem perder o certo encantamento, revelado pelas imagens poéticas durante a travessia de Jonas (Guilherme Weber), que parte de São Paulo, rumo a Rocha, no interior de Pernambuco para enterrar o pai, Lázaro, (Paulo César Peréio), que fora assassinado depois de mais uma boa noitada.
Divagando no meio do nada, Jonas acaba por reconhecer-se na estranheza daquela gente que ele não via desde os cinco anos, quando saiu de lá com a mãe, Stela (Renata Sorrah). De volta a Rocha, ele precisa decidir se aceita a sina da famíla do pai (amados e odiados na mesma medida), que há gerações impõe a lei do "cala a boca". Ao mesmo tempo, conhece Soledad (Giulia Gam) videasta que encontra nas pessoas mais simples de Rocha, a voz da sabedoria. Tudo isso, emoldurado pela terra seca do sertão sem fim. Mas um dia o "sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão", já dizia Antonio Conselhieiro.
Como "dança" o pessoal do árido movie... (só em longas)
Baile Perfumado (1996), de Lírio Ferreira e Paulo Caldas
O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas, de Paulo Caldas e Marcelo Luna
Amarelo Manga (2002), de Cláudio Assis, com roteiro de Hilton Lacerda e Claudio Assis
Cinema, Aspirinas e Urubus (2006), de Marcelo Gomes*, com roteiro de Karim Aïnouz** e Paulo Caldas
Árido Movie (2006), de Lírio Ferreira, com roteiro de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda
Baixio das Bestas (2007), de Cláudio Assis, com roteiro de Hilton Lacerda
Cartola - Música para os Olhos (2007), de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda
Deserto Feliz (ainda inédito), de Paulo Caldas, com roteiro de Marcelo Gomes e Xico Sá
* Marcelo Gomes é amazonense mas sempre esteve próximo da turma do árido movie. Tem curtas em uma coletânea de filmes de Pernambuco
** Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz, com roteiro de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes
Céu de Suely (2006), de Karim Aïnouz
** Madame Satã (2002), de Karim Aïnouz, com roteiro de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes
Céu de Suely (2006), de Karim Aïnouz
3 comentários:
Há tempos não vejo um filme tão ruim....
comparar este filme com "Cinema, aspirinas e urubús" é brincadeira, né?
comparar é uma coisa. e precisa de mais descrição. flerte, é só....ah, vai procurar no dicionário.
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