terça-feira, 6 de maio de 2008

o grande chefe

Até 1995 ninguém prestava atenção ou tinha a mínima curiosidade pelo cinema dinamarquês. Aí, um grupo de jovens realizadores de lá resolveu criar um manifesto. Então listaram 10 regras, chamaram de Dogma 95 e foram reconhecidos mundo afora, vez ou outra até com a chancela de importantes festivais como Cannes, na França. Dessa turma saiu o diretor Lars von Trier. É dele Os Idiotas, segundo filme do Dogma95, lançado em 1998, e ainda hoje um dos mais populares.

Dez anos depois, chega às locadoras brasileiras O Grande Chefe, produzido por Trier em 2006. Enquanto em Os Idiotas, a câmera disseca um bando de jovens abusando do humor negro em situações envolvendo portadores de Síndrome de Down, em O Grande Chefe, a foco da narrativa é idiotização do manda-chuva de uma pequena empresa afogada em incompetência e mágoas.

Um empresário da Islândia está prestes a comprar a companhia dinamarquesa, gerenciada por Ravn (Peter Gantzler). Mas a transação só será efetivada com a presença do Grande Chefe, até então uma figura mítica e desconhecida dos funcionários. Só que na real, esse Grande Chefe não existe. Era só uma forma de Ravn "domar" os empregados e dizer que todo mal ocasionado não era culpa dele, mas de uma entidade superior.
Só que o tal empresário da Islândia se nega a fechar negócio sem a presença do Grande Chefe. Eis então que Ravn tem uma idéia de gênio (aliás, de mané mesmo, risos), e contrata o ator Kristoffer (Jens Albinus) para fazer o papel de chefe. A comédia da história, não está só nas piadas, mas sobretudo na satirização da relação entre patrão e empregados. E tem mais, o ator passa a gostar da função de chefe e resolve atrapalhar os planos de Ravn.

O Grande Chefe parece mais uma revisão de rumos, como se Trier tivesse relendo sua carreira a partir de Os Idiotas, do que fiel às suas últimas produções como Dançando no Escuro (2000), Dogville (2003) e Manderlay (2005). Primeiro, porque resolve criar um novo método de realização. Ao invés de câmera na mão como em Os Idiotas (conforme as regras do Dogma 95), Trier fixa a câmera em um tripé e só trabalha com planos estáticos. Utiliza-se ainda de um recurso que ele chamou de Automavision. Ou seja, é o computador que seleciona a melhor posição da câmera e o enquadramento e não o diretor de fotografia.

Mas o discreto chame de O Grande Chefe é a narração em off do próprio Trier, que vê tudo (o filme e por conseqüência o seu cinema) do lado de fora do prédio da empresa. E logo no início Trier assume que O Grande Chefe é um filme estranho. Aos incomodados e insatisfeitos, uma pena terem desgostado. No entanto, quem se identifica com esse jeito bem particular de contar uma história banal, diz Trier, despido de qualquer modéstia: "é porque merece".

Comédia, Dinamarca, 2006, 100min.

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