Pior do que fim de ano é desgosto, tapa na cara, camisa rasgada e encharcada de champagne. Valéria, loira, 23 anos. Vilmar, cabelos castanho claros, 29. Valéria é sonhadora, ou como dizem as amigas invejosas, quer marido rico e uma coroa de rainha. Vilmar é rico, mas trabalha.
Valéria faz aulas de desenho e pintura no intervalo de um desfile e outro para uma grife local. Na verdade, ela desfila uma vez por ano. Faz por caridade. As amigas invejosas dizem que nada é por caridade, só mídia mesmo. Vilmar passa seis meses viajando pelos países sofridos da África. Leva a utopia da cura e um punhado de carinho.
Valéria tinha de casar antes de ficar velha. Antes do fim da mesada, antes de precisar trabalhar. Graças a Deus Vilmar lhe caiu do céu. Vilmar é romântico, compra flores sempre na mesma floricultura, brinda o amor com o mesmo encanto da primeira noite. Valéria não faz teatro, mas é boa atriz. Ama ser paparicada, ama os presentes, das pequenas jóias, àquele carrão novinho em folha.
Vilmar jamais era citado em coluna social, mas bastou anunciar o casamento com Valéria para virar figurinha fácil. Vilmar nasceu em berço de ouro, mas dispensa os holofotes porque, como diz sua mãe, gente chique não se expõe. Vilmar ama Valéria. Valéria ama a mídia. Valéria troca o carinho de Vilmar por presentinhos e bem-estar. Prazer, dizem as amigas invejosas, ela busca em quartinhos escuros, portinhas escusas de danceterias e por aí mesmo.
Mas um dia o amor acabou. Aliás, o casamento acabou. Pobre daquela gente que virou padrinho e testemunha de um dos enlaces mais badalados da cidade. Que mico, hein?. Tava demorando, grita o coro de amigas invejosas. Amor, se teve, era unilateral. Mas não tem problema, traição não dá cadeia. Era um garotinho tão gostosinho, conta uma das amigas invejosas.
Nesse Reveillon Vilmar vai brindar o amor com champagne e caviar. Vilmar é romântico e nunca perde o encanto pela vida. Valéria continua loira, quer marido rico e coroa de rainha. Vai brindar daquele jeito-jeca: "Uhu, gurias".
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Um comentário:
Já te falei pessoalmente, mas por que não deixar registrado: essa crônica é uma das melhores que já li nos últimos tempos entre todas publicadas no jornal.
É uma risada atrás da outra cada vez que leio. Parabéns!
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