Ninguém que se arrisca a fazer filmes deveria comerçar sem antes devorar a obra de Ingmar Bergman. Sobretudo quem vê no cinema o trabalho de um autor, a reflexão humanista e a extensão da vida. E por ironia do destino é justamente por estes motivos que tanta gente se esquiva dos filmes de Bergman. Porque sem dó nem piedade ele expõe relações ora conflituosas, ora obsessivas e a incapacidade de lidarmos com a morte.
Querer escapar da identificação com suas histórias é driblar a inevitabilidade da finitude. Não é possível enganar a morte, nem mesmo depois de vencê-la em um jogo de xadrez. Bergman, entre tantas coisas, quer nos mostrar como a travessia por esssa vida depende da fragilidade das nossas escolhas. Lançados a toda sorte precisamos mover as peças com precisão antes que as más escolhas transformem-se em traumas irreparáveis.
Seja na vertigem de um grito ou na sutileza de um sussurro, Bergman coloca amados e traídos diantes do mesmo espelho. Não para desnudarmos as tragédias de cada um, mas para reconhecermos no outro o que negamos ser. Ou ainda como melhor explicou o cieasta francês Jean-Luc Godard: "Para Bergman estar só é se fazer perguntas; filmar é encontrar as respostas".
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