Quem viu "Terra em Transe" (1967), de Glauber Rocha, não esquece de um sem fim de cenas impressionantes e delirantes. Nem por isso, Paulo Autran se perdeu nessa profusão de desejos vertiginosos. Ele interpreta o Senador Porfírio Diaz, um tecnocrata que apoiou o presidente da República d'Eldorado. E lógico, prepara o terreno para suceder o "amigo".
Autran externaliza a ira daquele Glauber em transe, como poucos. Seja dentro da igreja, envolto pelas imagens sacras, seja no alto de um morro tremulando uma bandeira, em meio a uma forte ventania. Autran dizia que "Terra em Transe" era um dos melhores filmes da história do cinema brasileiro. Não à toa, era uma linguagem que se aproximava do teatro.
Da cinematografia recente, destacam-se "A Máquina" (2005), de João Falcão, e "O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias" (2006), de Cao Hambuger. Em "A Máquina", Autran parece buscar uma certa inspiração naquele transe de Glauber. O texto é voraz, o movimento de câmera impressionante, e Autran, como de costume, deixou a sua marca. O filme não seria o mesmo sem ele.
Em "O Ano", escolhido para concorrer a uma vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro, o ator faz apenas uma pontinha. Interpreta o avô do menino Mauro. Não há a eloquência, nem a sombra do transe de Glauber. E nem precisa. Em poucos minutos Autran nos conquista com aquele aura do avô que todo mundo idealiza. A morte do personagem é mais do que mis en'cene. Reveja "O Ano" e perceba o quanto dolorosa é a ida daquele avô. Ainda parece um transe. Mas é morte.
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