sábado, 5 de julho de 2008

depois da barba branca, só o jazz

Fiquei velho.

Não percebi isso depois dos primeiros fios de barba branca. Nem mesmo depois de perder os últimos fios de cabelo. Envelheci. E não tem nada a ver com as juntas rangendo, nem com a certidão amarelada. Percebi que envelhecera quando aquele disco de jazz teimava em seguir sua sina. Aquele trumpete ressoando pela casa, servindo de trilha sonora de um beijo ardente e amorosamente apaixonado que só cessava para que pudessemos sorver uma taça de um bom vinho (bom por ser de bom gosto e também bom de preço), é o claro sinal de que envelheci.

Jazz. Quem diria, hein?

E o que fazer agora com todos os Radiohead? E os Sonic Youth? Se bem que misturando esses dois aí com a fúria vertiginosa do Zappa...com certeza seria uma boa provocação para Miles Davis. Seria o fim da trilha do rock nas minhas veias abertas? Para felicidade dos poetas Marco de Menezes e Augusto Nesi, sim. Aliás, pra eles será uma bênção saber que fui infectado pelo veneno do jazz.

Talvez o pessoal do Revival enfim reconheça que virei um velho chato e parem de me deixar frequentar o bar. Pô, mas eu tenho umas gordurinhas pra queimar. Não me impeçam de beber uma ceva gelada imaginando estar em um bar de rock no centro de Londres, lá por volta de 1976, 1977. Ou vai dizer que Ramones só faz sentido até os 30.

Talvez sim.

Deep Purple, não. Sempre foi som pra quem nasceu coroa. Pra quem já nasceu com mais de 30. Lembro de só querer aproveitar da demência juvenil que se encaixava tão bem à bizarrice de bandas como Sonic Youth ou Nirvana, mas meus companheiros de banda preferiam o flerte com a música erudita que fluia sem parar de bandas como Deep Purple. Ali parecia que a Terra do Nunca era o meu paraíso e meu paradeiro. Porto seguro.

Ledo engano.

Porque agora, vivendo sob a Era do Jazz, percebi a finitude ainda mais perto. Mas não tem problema. Vou levar a vida na mesma cadência desses serelepes que adoram soprar seus trumpetes mundoa fora.

Paciência, caro Baldi. Paciência. Quem sabe seja só uma fase e eu esqueça logo dessa palhaçada que é o jazz. Mas sabe que ando beeeem preocupado. Porque eu já tinha uma certa predileção a gostar de jazz, mas ainda me mantinha resistente e ouvindo a todo volume a saudosa guitarreira, seja em acordes bonitinhos, mas ordinários, como nas músicas do Led Zeppelin, seja na demência abestalhada e cheia de microfonias como em Sonic Youth.

Mas agora, acho que fudeu. Depois da barba branca, só o jazz pra me salvar.

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