terça-feira, 21 de outubro de 2008

oásis tem nome e sobrenome

Fiquei muito triste em saber que a revista OÁSIS pode não ter um segundo número ainda este ano. 2009 com certeza. Na real, a OÁSIS deveria sair todo mes (perdoem a falta de acentuação em circunflexo...este pc não tem esse recurso). Quem ainda não leu não sabe o que tá perdendo.

Falando em oásis. Descobri que o oásis tem nome e sobrenome: White Sand's Beach. Supermercado vazio, repleto de silencio. Cachorros deitados a sombra, mais inertes do que as pulgas espalhadas debaixo do pelo. Mas isso é quase nada perto do baú de memórias.

Como pode um lugar como esses, desprezado por quase todos, taxado de inútil, evocar tantas lembranças. Começando pelo cheiro. Cheiro de marezia. Não...mais do que isso. Cheiro de infancia. De quando eu atravessava a praia pilotando uma Caloi azul, bem pequena. Cheiro de manhã morna, praia vazia, o sol aparecendo lá longe, dentro do mar. E eu ali, insignificante como um grão de areia, deslizando de um lado ao outro, gritando: "Zero Hora...Zero Hora". Ou então: ÓOOO...o sonho...".

E quase nada nessa vida vale mais do que banho de chuva na praia. Nem precisa ser dentro do mar. Ali na grama verde, ao lado da casa. Bola de futebol deslizando e as gotículas d'água escorrendo pelo corpo. Esgui, franzino. De tenis no pé, claro, mesmo debaixo da chuva, pra proteger das rosetas.

Depois de tudo, banho quente. Um livro pra ler até a chuva passar. Sempre lembro da casa da praia cheia de livros. Os livros do pai, os livros da mãe, os livros da mana, os meus livros. Mas as vezes eu roubava os livros da casa outra, aqueles clássicos de capa dura, que eram da coleção do pai e passava dias com sol e com chuva lendo e relendo.

O tempo passa e eu volto pra praia. A mesma praia que já foi cenário de tantas desventuras e tantos dias felizes. A mesma praia, mas parece outra. Só vira a mesma quando caio na rede e leio. Passo os mesmos dias com sol e chuva lendo. E sabes que alguns dos livros daquela infancia e adolescencia acabam voltando pro meu colo? Reler não é uma tentativa de entender, enfim. Mas de ir além. Porque o não-dito é tão ou mais forte do que o dito.

E as paredes da casa são cheias de não-ditos. Ainda bem. Quem sabe seja esse meu destino: decifrar o não-dito dos lugares mais comuns. Tão comuns, como a casa da praia, aqui mesmo, em Areias Brancas. Lugar desprezado e ignorado. E quem disse que as melhores flores nascem nos jardins mais explorados e desejados?

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