sexta-feira, 27 de março de 2009

sangue de um poeta



Jean Cocteau está para o cinema surrealista assim como Rambo está para o cinema acéfalo. Enquanto Stalone provoca risadas patéticas enquanto se assiste ao coitado do Rambo fuzilar a polícia norte-americana, Jean Cocteau desvela a poesia através da imagem. Num momento em que cinema se resume a um emaranhado de bombas explodindo aqui e a li, ou um cinema verborrágico, em que a palavra assume um papel mais importante do que a própria imagem -cerne do cinema-, Cocteau deveria reaparecer com toda força e imponência.

Cinema pro Cocteau é imagem. Jogo de imagens dialogando, mesmo que em muitos momentos pareçam sem sentido ou fora de lugar. Mas é que pro Cocteau e alguns poucos cineastas, cinema é poesia, é risco. Não deveria ser um encadeamento lógico e ritualístico. Cinema deveria ser o discruso de um demento, quase altista talvez, desferindo suas emoções pra quem quisesse ouvir. Mesmo que a imagem de amor pareça desalento; ou mesmo que o pudor seja confundido com penitência.

Cinema pra gente como o Cocteau é poesia. O resto é bobagem. Mesmo dentro de um universo de sentidos denominado surrealista, Cocteau vai além. Desaparece depois de lançar-se para dentro do espelho, como nesse trailer de "Sangue de um Poeta", lançado em 1930.

Cinema é risco, sempre. E talvez por isso mesmo Cocteau nos aproxime da vida mais ainda do sentido da vida, mesmo que seus filmes aparentemente nos conduzam pra longe da vida.

Um comentário:

clarissa disse...

uma das minhas primeiras referências... legal tu ter lembrado aqui.

*mas será que o rambo está tão distante dele assim?