quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

o dedinho gordo no gatilho

Num dia desses de outono, em 1943, nascia numa das ruelas de Paris, Hervé Villechaize. Os anos passaram e ele não cresceu nada. Ou quase nada. Na escola, o petit era motivo de chacota. Mas por essas e outras – já conto sobre as outras – Hervé se tornou um dos parisienses mais populares da década de 70. O grande trauma da sua infância teve início num fatídico Natal em família.

Um tio solteiro, meio bêbado e meio dado a libertinagens com crianças beijou Hervé depois da meia-noite, quando todos já estavam embebecidos de vinho e champagne. O petit ficou assustado, não dormiu. Anos mais tarde revelou durante uma entrevista a uma revista americana que teria sentido um delicioso prazer depois daquele beijo. Um prazer de doer o peito.

Daquele dia pro resto dos seus dias amor e desejo sempre seriam sinônimos de dor. Saindo da adolescência, e ainda com 1m47, conheceu Laura, uma mulher de 1m75, olhos claros, pele alva e sorriso encantador. Apaixonado, fugiu de casa e agarrou a pequena com todo o tesão do mundo. Pra seu desgosto, aos poucos ela se revelava uma praticante de sadomasoquismo. O "casamento" durou um ano. Um tapa na cara e um "fuck you" selaram o "fim de um romance banal", como mais tarde o próprio anão descreveria o amor por Laura.

Nesse período, Hervé já fazia um certo sucesso no cinema. Mas só em 1974 ele teve a chance de encarar um grande papel (sic). O Homem da Pistola de Ouro (The man with the golden gun), narrava mais uma aventura do agente secreto 007, que em meio a uma e outra fuga dantesca, transava por aí com uma ou outra bondgirl. Pra quem não lembra, nesse filme Hervé interpretava Nick Nack, o capanga mortífero de Francisco Scaramanga (Christopher Lee). Hervé era uma espécie de Zacarias-do-mal.

Depois do tapa na cara, do amor se esvaindo boeiro abaixo, e do sucesso em O Homem da Pistola de Ouro, Hervé alcançou a glória absoluta na série de televisão Ilha da Fantasia (Fantasy Island, 1977). O personagem do petit era o Tatoo, uma espécie de ajudante do faz-nada milionário Sr. Roarke (Ricardo Montalban, um ator mexicano de terceira categoria que vive sonhando com a reedição de Ilha da Fantasia).

Na série, Hervé andava de um lado a outro colhendo flagras dos visitantes da ilha e fofocando ao patrão. Uma espécie de Nélson Rubens que não cresceu. O texto do anão era tão curto quanto suas canelas inchadas. Sua frase mais importante era: "Mr. Roarke, the plane! the plane!". Como era um anão subalterno não comia ninguém e não tinha motivo algum para sorrir, mas então porque sempre sorria momentos antes do intervalo comercial, quando enquadravam seu rosto em close?

Há duas explicações coerentes, que na real se entrecruzam. O sucesso fez de Hervé Villechaize um homem bonito, atraente, desejado e com uma boa poupança. O resultado? Mulheres e mais mulheres, das divas da Broadway às empregadas da zona sul carioca, todas desejavam ver o tamanho do talento do francesinho. E com as mulheres, noitadas, dias sem dormir, farras – sempre regadas a doses de álcool e drogas. Essa sbórnia durou seis temporadas. Hervé não sentira tamanho prazer e dor desde a adolescência, na época em que se deliciava com os beijos do tio às escondidas.

Em 1983, o início da queda. O petit exigiu o mesmo cachê de Montalban quando da renovação do contrato. Nada feito. Hervé fora demitido sem o menor pudor, desprezado como um caroço de azeitona. A série não durou um ano sem o anão. Deixado às traças, as mulheres afastaram-se do petit, agora uma ex-celebridade. Num repente ele voltou a ser feio, baixinho, broxa e veado. A bebida, parceira de festas e orgias em anos passados, havia se transmutado na sua única e inseparável companhia.

Sem trabalho, sem mulheres, e depois do falecimento do tio, o ator reclamava de Hollywood – que só queria lhe dar papéis de anão (sic). Em 1993, aos 50 anos e sozinho, resolveu os problemas num estopim. Carregou de balas um revólver semi-novo e disparou contra a própria cabeça. Entre migalhas de cerebelo espalhados pelo chão, havia um copo de uísque quase vazio. Antes do gelo derreter, morreu. Assim pretendia espantar de vez a dor que o perseguiu em todos os momentos de prazer. Enfim, pode amar em paz.

7 comentários:

Anônimo disse...

putz...
coincidencia ou não estou trabalhando nesse assunto do pessoal pequenininho
abrs
Jana

Mugnolini disse...

hehehehe.
viu como anões tb morrem?
mas nunca de morte natural.

Anônimo disse...

por muitas vezes deve ter desejado estourar os miolos do mundo cagão do preconceito.
e ter deixado a salvo apenas uma noite

Anônimo disse...

Essa estória me lembra muito a de Nelson Neds, outro que disse certa vez ao gordo Jô Soares que tinha cansado de assistir o programa do último em motéis caros, cercado de belas mulheres e cocaína em abundância. O diferencial é que o Nelson Neds achou um mercado promissor para seus discos, o dos Evangélicos!! Nossos anões brasileiros não desistem nunca!!!!!!!!!!!!!

Mugnolini disse...

hehehe. salve zuzuwah. coisa de anão brasileiro é sempre levar uma vantagem extra.

Adele Corners disse...

Pobre anão......

Mugnolini disse...

o rico pobre anão.