Tapa na cara
Ontem foi a noite mais política do Festival de Cinema de Gramado. Na tela “O Cobrador – In God We Trust”, de Paul Leduc, e “Condor”, de Roberto Mader, abordavam sob pontos de vista bem diferentes, a interferência das ações políticas, algumas mais evidentes, outras endêmicas, do passado e do presente.
“O Cobrador” é mais uma prova de que para conhecer melhor que mundo é esse, repleto de interferências e influências da globalização, com choques estremados de desejos e necessidades, é preciso ver os filmes mexicanos. É invetável lembrar de “Babel”, de Alejandro González Iñárritu. Menos pela virulência e mais pela itinerância das histórias, espalhadas por Estados Unidos, Argentina, México e Brasil.
“O Cobrador” é mais porrada do que “Babel”. Literalmente. Já começa com o personagem de Lázaro Ramos (nominado como C) esbofeteando um dentista. E assim segue. Peter Fonda interpreta X. É um ricaço cheio de tédio e muito raiva, que adora atropelar mulheres indefesas. Ao mesmo tempo, Leduc costura essas tramas a outras tantas. Num momento as histórias se mesclam tanto que o espectador se confunde.
Mas é uma confusão que explicita esse mundo cada vez mais sedento de ar. Sufocados por sonhos improváveis, por uma vida que traga o mínimo de bem-estar os personagens C, de Lázaro e Ana, de Antonella Costa, estão empenhados em cobrar do mundo essa dívida. Entre os pedidos: “respeito, sorvete, camisas limpas e lágrimas limpas”. Tudo fruto do texto de Rubem Fonseca. Matéria prima desse inconstante mundo em decomposição. Política e moral.
Depois desse “tapa na cara”, o público conferiu o penúltimo concorrente brasileiro. “Condor” não tem o mesmo vigor, nem a mesma virulência, mas carrega nas costas o peso de um dos mais tristes capítulos da história da América Latina: a ditadura militar. O documentário disseca a Operação Condor, e mostra que o objetivo era prender, torturar e matar desafetos políticos.
O diretor Roberto Mader teve coragem de ouvir representantes da direita, entrevistou Pinochet Jr. e o general Manoel Contreras (braço direito de Pinochet).
Há momentos líricos, muito bem pontuados pela trilha sonora de Victor Biglione, mas alguns depoimentos pouco, ou em nada acrescentam. Fica a impressão de ser uma aula para quem desconhece o período, do que um documento que abre novos caminhos para a punição dos culpados.
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