sexta-feira, 28 de agosto de 2009
DJs e a provável morte da música depois do coice
P.s.: o Jorge, DJ Mono está no clipe. Prestem bem atenção.
quarta-feira, 26 de agosto de 2009
CINE URUGUAIO NA UCS
Tu tens uma ótima oportunidade de conhecer melhor o Federico. E pode ser nesta quarta-feira, dia 26. O cara vem pra Caxias trazendo na garupa o documentário La Matinée. Na tela, um tapa na história do Uruguai a partir de uma das manifestações mais papulares, a murga, uma espécie de Carnaval de nuestros hermanos.
Resumo da notícia (risos), essa é pra preguiçoso ler: A exibição de La Matinée ocorre nesta quarta-feira, às 20h, no UCS Cinema. Ah, e tem debate depois viu.
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
DeRosianas
Te liga aí no que o guitarrista Marcos De Ros, que é assessor de imprensa, RP e videasta nas horas vagas, escreveu sobre seu próprio espetáculo.
O guitarrista Marcos De Ros, juntamente ao pianista Éder Bergozza, estão lançando seu novo projeto, “Peças de Bravura!” que já foi aprovado pela lei de incentivo “Fundoprocultura”, de Caxias do Sul.
O “Peças de Bravura!” consiste na execução, na guitarra e piano, de peças compostas pelo guitarrista justamente para esse concerto. São musicas inéditas que levam a marca do erudito e virtuosismo, mas também são cheias de referências Brasileiras, como Choro, Baião, Samba e Milonga, entre outros.
“Peças de Bravura!” é a versão em Português para o termo Francês “Pièce de Résistance”.
A tônica do show “Peças de Bravura!”, além da música em si, se dá também pela explicação do porque dos nomes engraçados das músicas (Dança da Lagartixa, A Vingança do “seu” Madruga, Corrida de Calango, etc...) e da performance divertida e “alto-astral” que caracteriza os trabalhos da dupla.
Outro ponto de grande destaque fica por conta dos malabarismos musicais que as composições exigem dos interpretes, que tocam praticamente no limite de sua técnica e musicalidade.
Um espetáculo que resgata a “Ars gratia artis” (arte pela arte), onde a música, com uma orquestração simplificada, quase minimalista, num diálogo de apenas dois instrumentos, consegue captar e transmitir emoções, numa troca quase frenética de energia entre os instrumentistas e sua platéia.
Este espetáculo será gravado e lançado em DVD!
“Peças de Bravura!”
Casa da Cultura de Caxias do Sul
09 e 10 de setembro de 2009, 20:00 horas
Gravação do DVD.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
bastidores
* 2009 é o ano do fortalecimento da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Dois membros estão no Júri da Crítica, os jornalistas Ivonete Pinto e Daniel Feix.
* Briga boa e engraçada de ver de fora é a disputa pelo brilho dos holofotes no tapete vermelho. Na verdade, a briga é entre as emissoras Globo/RBS e Rede Record para ver quem expõe mais seus “astros”.
* Tem cambista vendendo ingresso para o festival. O preço médio é de R$ 50, mas quem compra pela internet tem um acréscimo de R$ 8,50. Lá fora o cambista vende por R$ 90, mas na pechincha sai por R$ 50. O cambista está querendo no mínimo empatar a despesa. É que até agora, pouca gente interessada em comprar ingresso.
* Comenta-se a boca pequena que o bom trabalho feito pela Web TV Soluções, de Caxias do Sul, como televisão oficial do festival pode render a renovação do contrato para 2010.
* É o preço da fama. Assessoria da Xuxa parece não ter gostado do tom das notas dadas à rainha dos baixinhos nos blogs do ClicRBS, empresa afiliada à Rede Globo.
Depois do furacão, a sutileza desvairada
Ruy Guerra será homenageado com o prêmio Kikito de Cristal, hoje à noite, no Palácio dos Festivais. É uma graça pelo conjunto da obra, por sua relevância na produção de filmes que dão conta de dar uma cara à cinematografia brasileira. Guerra é um dos responsáveis pela revolução do cinema novo, cujo principal objetivo era revelar que Brasil é esse, suas contradições e dilemas. Movimento que tomou corpo e que vez ou outra ainda faz brotar referências América do Sul afora.
Esse olhar de Ruy Guerra, voltado às contradições, é a cara do cinema Brasileiro. Se na Argentina o filme mais visto em 2008 foi Ninho Vazio, de Daniel Burman, uma produção que retrata com sutileza a relação de uma família, mas sem tropeçar em qualquer estereótipo, aqui no Brasil temos justamente o inverso. Temos um filme como Se eu Fosse Você 2, como a maior bilheteria do ano. Felizmente, filmes como Se eu Fosse Você não vêm a Gramado.
E pior, o tapete vermelho não recebe sequer as “estrelas” (veja bem, entre aspas) que estão com suas faces estampadas nos filmes de maior bilheteria. Gramado expõe no tapete atores, que em sua maioria, estão na berlinda-temporária, superexpostos nas novelas das suas emissoras (aliás, que deliciosa briga essa da Globo/RBS e Rede Record).
Enquanto isso, lá dentro da sala escura, um público ainda tímido, com lotação média de apenas a metade da capacidade, assiste a uma boa seleta de filmes em longa-metragem. Nas sessões da noite, que contemplam os filmes brasileiros e estrangeiros em competição, destaque para La Teta Asustada, co-produção Peru/Espanha, da cineasta Claudia Llosa. O filme já tem na bagagem o peso de um Urso de Ouro, no Festival de Berlin deste ano.
Dentre os brasileiros, destaque para doc-arte inspirado na vida do artista plástico Cildo e o doc-investigação Corumbiara, sobre o massacre de índios em Roraima. Mas o filme brazuca mais comentado ainda é Canção de Baal. A diretora Helena Ignez tomou porrada e carinho no debate na manhã seguinte da exibição. Seu cinema de poesia, de risco, que deflora a inocência com um punhado de ousadia é o bálsamo nesse festival de contradições.
Hoje na tela do Palácio dos Festivais, mais dois filmes que prometem brigar pelo tão sonhado título de melhor filme de Gramado. O uruguaio Gigante, de Adrian Biniez, que revela a obsessão de um relacionamento entre um segurança e a mulher da limpeza de um supermercado, chega com a chancela do prêmio Urso de Prata, no Festival de Berlin. No lado brazuca, é aguardada com ansiedade a exibição de Corpos Selestes, de Marcos Jorge (diretor de Estômago) e Fernando Severo. O filme discorre sobre as diferenças de temperamento de um casal. Mas tudo isso sob a ótica de um astrônomo.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
coisa de cinema
"Memórias do Subdesenvolvimento" salvou a noite. O filme de Tomás Gutiérrez Alea, lançado em 1968 é um delicioso tapa de luva. Coloca em xeque a própria condição de Cuba como revolucionária. Mas de que e para onde - e sobretudo - por quem.
Numa primeira leitura, nem tão superficial assim, é possível identificar umas pitadas de Godard nessa película. O personagem principal não vive, ele desfila. O cara é separado, vive da renda de aluguéis e se envolveu com uma menina de 16 aninhos. Na real, ele é tudo o que o GOBIERNO REVOLUCIONÁRIO de Cuba mais odiava. Porque o cara é sensível à liberdade. Ah, essa última frase contém ironia, tá.
Mas sabe onde o filme desagua? Desagua numa teoria que é ponto central pra compreensão do flime. O nosso amigo protagonista reclama da jovem menina. Ela é gostosa e sediciosa. Tá, até aí, tudo bem. Mas o protagonista fica entediado porque ele queria uma mulher mais européia e menos caribenha. Para ele, a menina é a personificação de Cuba. Cuba subdesenvolvida.
Porque a menina é só sorrisos, quase nada de seriedade, é inconsequente, e além de tudo, não está preocupada com a questão cultural. Para o protagonista esses traços fazem de Cuba um eterno país subdesenvolvido. Porque seu povo é assim.
E qualquer semelhança com outro país das Américas aqui de baixo, dos latinos, NÃO é mera coincidência.
de gramado - primeiras impressões
De um lado o fricote, o ti-ti-ti, o nhénhénhé de estrelas famosas e decadentes, de outro, o cinema, boa seleta de filmes, e a confirmação do que foi plantado em 2006. Plantio, aliás, muito bem-vindo depois da terra arrasada que o festival havia se tornado.
Felizmente, Sérgio Sanz e Carlos Avellar andam espantando a mesmice de Gramado. MÃS...(sim, com acento, pra ENFATIZAR a asneira que vou dizer) sempre tem espaço pra um filme-bobagem, sem pé nem cabeça. Tá, mas o importante é ter gaúcho na competição. Então tá valendo.
Só pra deixar mais explícito. Escrevo sobre o novo filme do Sérgio Silva: "Quase um tango". Que muita gente malvada anda chamando de "Quase um filme". Ironia pouca é bobagem.
quarta-feira, 29 de julho de 2009
Aguerrido, mas sem perder a ternura
Admire-se. Seu Ivo tem celular, e-mail e messenger. Comunica-se através do skype e da webcam com a neta Ana Leonor, que mora na Holanda. Não foi fácil, reconhece, mas nada que umas aulas particulares não compensassem a falta de destreza no manuseio do computador. Até o blog de um sobrinho ele anda lendo. Esse é o Seu Ivo, carrega a juventude sob os ombros de um senhor irrequieto, amável e brincalhão. Ultimamente anda sentindo uma dorzinha chata numa das pernas, mas nada que uma caminhada até a beira do mar ou uma prosa com os vizinhos não resolva.
Sua memória guarda lembranças tão fortes das diversas fases da sua vida que às vezes se tem a impressão de quem ele inventa tudo. Mas é impossível ter inventado todas essas histórias, porque a riqueza de detalhes nos lança para dentro do seu baú de memórias. Ouvi-lo é como percorrer a cena de um filme sem ser reconhecido pela platéia. Quando fala da primeira viagem ao Litoral, em 1952, parece que estamos sentados ao seu lado, no velho ônibus que partiu de Caxias do Sul, parou em Porto Alegre, “ali na Paineira”, e depois seguiu seu rumo em direção a Torres “pela beira do mar”. “O ônibus esperava a onda e depois seguia viagem”, recorda.
Aventura – Ir à praia entre os anos 50 e 70 era como desbravar o desconhecido. Os corajosos tinham de enfrentar a má condição das estradas, o barro ou poeira (dependendo se tinha chovido ou não), a falta de sinalização, as crianças ansiosas dentro do carro, a bagagem que se perdia no caminho (conforme o solavanco), e claro, o inevitável atoleiro. Tudo isso, para chegar às praias do Litoral Norte, e encontrar o que? Nada, absolutamente nada além de areia, mar e calmaria.
“Aqui em Areias Brancas só tinha o armazém do Fulcher e o Hotel Peteffi. O Fulcher tinha o armazém, mas era ainda barbeiro, farmacêutico, parteiro, e construiu a casa do meu pai aqui na praia. A gente chamava ele de João Faz Tudo. Porque não tinha coisa que ele não fizesse”, revela Ivo, sorrindo. A casa a que Seu Ivo se refere foi uma das primeiras construções de alvenaria de Areias Brancas e ainda está de pé. “Eu e meus irmãos usávamos a casa por apenas 20 dias cada um”, lembra.
Crescimento – Seu Ivo conta que no início dos anos 70, quando a casa do pai ficou pronta, dava para ver o mar ao abrir a porta. Hoje não mais, porque o descampado de ontem agora é ocupado por dezenas e dezenas de casas. “Não é de hoje que essa praia cresceu. Anos antes de a Rota do Sol ficar pronta, quando o governo do estado passou a dar mais atenção à rodovia, o preço dos terrenos aqui em Areias Brancas subiu. Passou de R$ 20 mil para R$ 50 mil”, explica.
O aumento dos terrenos acompanhava uma outra tendência, de um crescente aumento do número de freqüentadores das praias de Arroio do Sal e Areias Brancas. No entanto, esse crescimento ainda não foi suficiente para resolver questões como a limpeza e iluminação das ruas, ou ainda, a ampliação do horário de atendimento dos restaurantes e supermercados.
Emoção – Seu Ivo não percorreu ainda a Rota do Sol depois de concluída. Mas não esconde a curiosidade, parece só esperar pelo convite de alguém que o conduza estrada adentro. Porque uma vez estradeiro, estradeiro para sempre. Seu Ivo já morou em Caxias, Novo Hamburgo, Porto Alegre e Pelotas. Naquela época, não se incomodava em ter de pegar a estrada saindo de Porto Alegre rumo ao sul do estado.
Mas quando perguntado se repetiria a dose daquela época de desbravador, em que precisava enfrentar com uma boa dose de coragem as intempéries de uma viagem ao litoral, Seu Ivo responde: “Hoje eu não faria isso. De jeito nenhum. Mas naquele tempo a gente fazia tudo aquilo pra vir a praia e se divertia”, conta, com um sorriso encantador e os olhos marejados de lágrima.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
só pra não dizer que esqueci do máiquel jéquinson
Lucas, meu correspondente no Rio de Janeiro, sempre encontra personagens pitorescos pela orla carioca. Eis seu depoimento HISTÓRICO, do ocorrido dia desses.
- Eu tava comprando amendoin na rua, na semana passada, e o tiozinho falou pra mim: "Ouvi na rádio que morreu o Maiquel Jéquinson, agora sim ele vai ficar famoso como o Renato Russo e o Cazuza!
quarta-feira, 17 de junho de 2009
clipe para um dia cinza
Firekites - AUTUMN STORY
Chalk animated music video directed by Lucinda Schreiber and Yanni Kronenberg.
Music available from Spunk Records
spunk.com.au/
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Kilmayr na França
Kilmayr participa de maratona de cinema brasileiro na França
O documentário Kilmayr, dirigido por Marcio Schenatto, será exibido neste sábado (13-06) na mostra “Maison du Brésil – marathon: 50 heures de cinéma brésilien”. É a segunda vez que o curta participa de um festival na França. Em 2008 participou da Mostra de Documentários Independentes “Nossas Novas”.
Kilmayr está na programação de 50 horas de cinema brasileiro que inclui clássicos como Limite (Mario Peixoto - 1930) e Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade- 1969) além de longas e curtas da produção recente do cinema nacional.
A Maison du Bresil está comemorando 50 anos em 2009. O local, situado na cidade universitária de Paris, serve de residência para pesquisadores e estudantes brasileiros e é um polo de difusão da cultura do Brasil.
Confira a programação completa da maratonade cinema no link abaixo:
www.maisondubresil.org/Culturel/images/2009%20programmation%20cinema.pdf
Sinpose: 22h40 - Kilmayr, Márcio Schenatto, 2005, 10 mn. Documentaire
Quotidien d’un « gari » (« éboueur ») raconté par lui même dans une ville du sud du Brésil…
sexta-feira, 29 de maio de 2009
CINEESQUEMANOVO
CineEsquemaNovo 2009: inscrições abertas para seleção até 03 de julho
Júri Oficial terá liberdade para criar e distribuir oito diferentes categorias de premiação entre os curtas, médias e longas-metragens selecionados
Organização trabalha pela ampliação da programação internacional nas mostras especiais e paralelas
O CineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre (CEN) recebe a té o próximo dia 03 de julho , inscrições de filmes para seleção em suas mostras competitivas. Como de costume , filmes de todos os gêneros , formatos , técnicas e linguagens são aceitos em pé de igualdade no festival – que , rumo à sua sexta edição , é uma das principais bases de exibição e debate do cinema contemporâneo independente no Brasil.
Os filmes selecionados para as mostras competitivas serão divulgados no final do mês de agosto , e o CEN 2009 está previsto para acontecer entre os dias 17 a 24 de outubro de 2009.
Todas as produções inscritas concorrem de igual para igual na seleção , exibição e premiação: o foco é a idéia . Para que diretores e produtores enviem seus trabalhos , basta acessar www.cineesquemanovo.org e preencher a ficha de inscrição . O site oferece o regulamento do CEN 2009 e todas as etapas necessárias para a chegada dos filmes aos organizadores do festival . No site também é possível conferir a nova arte do CEN para este ano , criada pelo designer gráfico Juliano Cabral.
Novidades para 2009
Uma das novidades deste ano nas mostras competitivas do CEN será a liberdade oferecida pela organização ao Júri Oficial (a ser divulgado em breve ) para que crie e distribua oito diferentes premiações entre os curtas, médias e longas-metragens selecionados .
"Entendemos que os trabalhos exibidos no CEN são muitas vezes inqualificáveis em categorias tradicionais, coisa que os próprios jurados já nos disseram em anos anteriores ”, pontuam os organizadores do festival (Alisson Avila, Gustavo Spolidoro, Jaqueline Beltrame, Morgana Rissinger e Ramiro Azevedo). “ Por isso , resolvemos propor que o Júri Oficial busque, dentre todos os filmes e suas diferentes características , os motivos , as histórias , as técnicas e as narrativas que possam gerar um prêmio específico . É um processo de relativização que o próprio fazer cinematográfico também se depara e que o CEN acompanha desde sua primeira edição em 2003. Por isso , nada mais natural que estender isso à premiação: o júri poderá encontrar livremente aquilo que melhor julgue digno de premiação”.
Estes prêmios se somarão aos troféus do Júri Popular e dos alunos da Oficina de Crítica Cinematográfica , que tradicionalmente escolhem o Prêmio da Nova Crítica .
O CEN 2009 também muda seu processo seletivo , no sentido de não determinar um número mínimo ou máximo de produções selecionadas para as mostras competitivas. Os cinco organizadores do festival , que compõem o Júri de Seleção , também trabalharão com a mesma liberdade do Júri Oficial para encontrar o número de filmes que mais se identifiquem com a proposta do CineEsquemaNovo.
Nas mostras paralelas , a produção do CEN trabalha para articular mais programações internacionais , a partir das primeiras e bem-sucedidas experiências do ano passado com “Body Rice”, do português Hugo Vieira da Silva, e “Loren Cass”, do norte-americano Chris Fuller. A idéia é valorizar filmes inéditos no País e em Porto Alegre , mantendo as regras que desde sempre orientam o CineEsquemaNovo: valorizar a criatividade , a inovação , a experimentação e a surpresa audiovisuais .
O CineEsquemaNovo – Festival de Cinema de Porto Alegre conta com a co-realização da Prefeitura Municipal de Porto Alegre , através da Coordenação de Cinema , Vídeo e Fotografia da Secretaria Municipal de Cultura , e apoio especial do Santander Cultural.
INFORMAÇOES PARA A IMPRENSA :
___________________
Sarah Goulart
Assessora de Imprensa CineEsquemaNovo - Festival de Cinema de Porto Alegre
MARIA CULTURA
55 51 3207 8463 / 51 9108.7621
imprensa@cineesquemanovo.org
sarah@mariacultura.com.br
quinta-feira, 28 de maio de 2009
sexta-feira, 1 de maio de 2009
o lamento do velho sarcástico
sábado, 25 de abril de 2009
amém
Agarrado ao novo e velho testamentos, aos salmos espalhados pela casa, repetindo a exaustão cada versículo de cada apóstolo, o velho resiste. Acorda e antes mesmo de sentir o calor do sol lhe cortar a pele, põe a mão na cabeça da velha esposa e perdoa-a. Ungido pela fé em Deus e pelo retrato da felicidade cravado na parede, o velho perdoa a velha esposa. Aceitou a troca dos olhos da cara por um punhado de moedas porque sabia da serventia das moedas. A visão ele não perdeu, nem mesmo depois de entregar os olhos da cara à velha esposa.
Quem olha através da janela pensa que o velho anda louco. Talvez esteja cada dia mais e mais lúcido, a despeito dos outros. Porque ali fora, onde o silêncio é esfaqueado pelo ruído, onde o orvalho envenena as plantas, onde o sol queima as retinas, onde a carne apodrece antes do recolhimento do corpo, onde o tapa na cara aniquila o amor, os outros são só uns vermes. O velho não teme pela virulência dos outros. O velho perdoa. O velho ama ao Deus Pai Todo Poderoso e desfere o perdão. Mais nada.
Não precisa de nada mais pra viver. Nunca precisou. Mesmo quando ainda ostentava os olhos da cara, o velho sabia desvendar os mistérios dessa vida. Trancafiado dentro de casa parece orar não só pelo afastamento de toda maldade que por ventura tente chegar até a sua casa, como também deseja livrar a Terra de todo o mal. Mesmo abraçado à glória de Deus, o velho não salvou ainda a sua velha esposa. Ela continua sua quermece com o coisa ruim. Não satisfeita em pedir os olhos da cara ao velho marido, a velha esposa anda tentando roubar-lhe a língua.
A noite, quando velho dorme, a velha esposa aperta-lhe as mandíbulas e tenta a todo custo arrancar a língua. Com cara de nojo, como se tivesse lambendo as costas de uma cobra enlamaçada, a velha cospe na cara do velho marido aquela ânsia toda. Nas duas vezes em que isso aconteceu o velho levantou-se da cama, fitou-a firme nos olhos e desferiu frases da sagrada escritura. Nas duas vezes, a velha caiu em sono profundo logo após o sermão de perdão do velho.
E por amor a Deus o velho segue amando a velha esposa. Sabe que é questão de tempo a entrega da velha. O velho não quer a velha em seus braços, porque isso ele a tem desde os 13 anos. Desde que o pai dela jogou-a na porta da sua casa. Desde aquela noite nervosa e vazia em que o pai depois de espancá-la arrastou a menina pelos cabelos e deixou-a ali, como um saco de batatas, de bruços, embebecida em álcool, sangue e raiva.
Desde então a menina, que virou velha, truçida o marido como se fosse o pai fodido. E o velho perdoa, porque acredita na remissão dos pecados e na vida eterna. Amém.
terça-feira, 14 de abril de 2009
quinta-feira, 9 de abril de 2009
novo jeito punk de ser
Nem por isso, nem mesmo por ser um guitarrista de banda punk, o Pubby se limitou a comer cachorro quente bebendo cachaça Pitu nas esquinas da vida. O Pubby virou advogado. Mais um dos bons homens desse país a lutar pelo cumprimento das leis. Mas como nem tudo na vida são códigos e normatizações, o Pubby resolveu dar um peitaço e virar dono de bar.
O Pubby não virou um "porco capitalista", ele cumpriu o principal lema do punk: Faça você mesmo. Como andava descontente com o perfil dos bares de Caxias, resolveu comprar um. Arranjou um sócio, o César Casara, do estúdio Alta Voz, e meteu o pé na porta. Casara e Pubby são os donos do Vagão.
Leia a seguir entrevista com o Pubby.
MUGNOLINI: Músico serve pra ser dono de bar?
PUBBY: Antes mesmo de ser músico a música sempre me facionou! Adoro a música! A forma que encontrei para unir prazer e trabalho era comprar/montar um bar, ou então um estúdio de gravação! A primeira opção apareceu antes, e abracei a oportunidade, e hoje posso dizer que sou mais feliz.
MUGNOLINI: Qual vai ser a cara desse novo Vagão?
PUBBY: Então, é inegável que alguma mudanças irão acontecer, e já estão acontecendo! Tanto eu quanto o César (meu sócio) gostamos muito de rock! Mas não fechado em uma única década! Ou seja, pretendemos fazer do vagão um bar de rock, mas aberto as várias tendências e ramificações do estilo! Inclusive as mais atuais! Entendemos que dessa forma o bar vai se perpetuar por muito mais tempo!
MUGNOLINI: O que te incomodava antes e como vai ficar?
PUBBY: Na verdade eu pouco frequêntei o vagão antes de adquiri-lo! Não existia algo que me incomodava nele! Acho que uma das coisas que pretendemos manter é a estrutura que o bar oferece, melhorando em alguns quesitos como camarin novo, sistema de som e iluminação nova, o atendimento, e o clima de respeito às diversidades.
MUGNOLINI: Lembro de no passado tu ter criticado duramente o Vagão em uma ocasião, inclusive com coisas no Orkut, se não me engano. Comprar o bar foi botar a tua cara pra bater?
PUBBY: Realmente, tive um problema com o proprietário anterior, ele estava começando a tabalhar na noite, e talvez a forma com que se desenrolou o ocorrido ficou desastrosa para ambos os lados, mas hoje jogamos futebol jutnos toda segunda-feira e acredito que superamos os problemas, também acho que tanto eu quanto ele aprendemos a conviver melhor com as diferenças. E sim, eu sempre fui uma pessoa que gosta de externar opiniões, e quando se faz isso há um preço a ser pago! Mas eu acho que vale mais falar o que se pensa, sabendo que poderá haver críticas em sentido contrário, do que passar a vida toda sem ter opinião própria.
MUGNOLINI: Comprar um bar é uma atitude punk?
PUBBY: No meu caso era algo previsível! Explico, como desde pequeno a música sempre teve um papel fundamental na minha vida, era de se estranhar que minha "profissão" não fosse, de certa forma, vinculada a ela! Pra mim, ir para ao bar não é um trabalho, é uma realização! E viver do que eu mais gosto na minha vida: música!
MUGNOLINI: Que tipos de banda vocês querem tocando no bar?
PUBBY: Isso ainda estamos estudando! O problema é que tu abstrai o gosto pessoal e passa a pensar como um negócio! Tem que ir atrás de bandas boas, mas ao mesmo tempo tu não pode abrir mão do público que fez a história do Vagão e que talvez não vá entender uma mudança radical na direção do bar! A princípio estamos com uma agenda bastante variada abrangendo vários estilos possíveis, desde o metal até o pop tradicional! Acreditamos que dessa forma vamos conseguir trazer diferentes tribos para dentro do bar, em diferentes dias, sem transformar o bar em apenas uma coisa! O que queremos é um bar de música boa! Dentro do pop/rock.
MUGNOLINI: Tu acha que o bar pode vir a ser o lugar que vai dar conta de dar oportuinidades às novas bandas?
PUBBY: Espero que sim! E se não for assim eu estou traindo a mim mesmo! Por isso já começamos a abrir nas quintas-feiras! Sei que o melhor para uma banda é mostrar seu som na sexta ou no sábado, no entanto, em se tratando de negócios, para que o bar possa dar chance para bandas novas é necessário que ele fature mais para cobrir os dias de menor movimento, infelizmente estes dias são ocupados por bandas novas, pois ainda não tem público, muitas vezes não são tão boas assim! Por isso a quinta-feira é uma aposta nas bandas novas da cidade! É um dia a mais que o bar abre para que as banda comecem a ter cancha, palco, e estrada, para amanhã ou depois vir a se tornar uma referência.
MUGNOLINI: E os consagrados? Que antes iam tocar no Revival terão espaço também no Vagão?
PUBBY: Bom, tudo depende! Não podemos transformar o Vagão no Revival! Essa é nossa atual política! O Revival foi um marco na cena musical caxiense, e tem que ser respeitado e lembrado para sempre dessa forma. O Vagão re-começa com uma nova política! Uma nova forma de ver as coisas! Se ele irá se tornar um ponto de efervecência cultural só o tempo dirá! Com relação as bandas, aquelas que nós entendermos que tenham o perfil que pretendemos para o bar, terão espaço garantido! Mas é importante lembrar que para uma cena realmente existir, não podemos viver só do passado, temos que contruir o novo!
MUGNOLINI: Como dono de bar e músico, qual banda tu sonha ter no teu bar tocando?
PUBBY: Pergunta difícil! Tem muitas bandas que eu gosto que poderiam tocar no bar! Essa eu vou ter que pensar mais um bom tempo pra te responder!
MUGNOLINI: E a pergunta que não quer calar, o Esqueleto vai ser o RP (Relações Públicas) do teu bar?
PUBBY: O Esqueleto já é o RP do vagão!!! huahauhauha... Não que isso seja bom! Mas enfim! Na verdade, já temos notado que os frequentadores do bar notaram algumas diferenças e já estão aprovando nossa administração! E isso é o que queremos, que as pessoas se sintam bem lá dentro! E que lá seja um local para ir e se divertir! Derreter no calor do rock!
NOTA DO MUGNOLINI: Ao final do e-mail Pubby desculpa-se por ainda não ter feito nenhuma foto sua lá dentro do bar. Aliás, nenhuma ainda publicável... E termina assim o e-mail: "Escrevi na correria, desculpa os erros de português que certamente vai ter! huahuahuahua... Agora ficar na frente do pc ficou complicado! Muita coisa pra resolver!!! Abraço mugnol!!! Vê se aparece lá no vagão!!! Ps.: temos ypioca!!! ;o)".
sexta-feira, 27 de março de 2009
sangue de um poeta
Jean Cocteau está para o cinema surrealista assim como Rambo está para o cinema acéfalo. Enquanto Stalone provoca risadas patéticas enquanto se assiste ao coitado do Rambo fuzilar a polícia norte-americana, Jean Cocteau desvela a poesia através da imagem. Num momento em que cinema se resume a um emaranhado de bombas explodindo aqui e a li, ou um cinema verborrágico, em que a palavra assume um papel mais importante do que a própria imagem -cerne do cinema-, Cocteau deveria reaparecer com toda força e imponência.
Cinema pro Cocteau é imagem. Jogo de imagens dialogando, mesmo que em muitos momentos pareçam sem sentido ou fora de lugar. Mas é que pro Cocteau e alguns poucos cineastas, cinema é poesia, é risco. Não deveria ser um encadeamento lógico e ritualístico. Cinema deveria ser o discruso de um demento, quase altista talvez, desferindo suas emoções pra quem quisesse ouvir. Mesmo que a imagem de amor pareça desalento; ou mesmo que o pudor seja confundido com penitência.
Cinema pra gente como o Cocteau é poesia. O resto é bobagem. Mesmo dentro de um universo de sentidos denominado surrealista, Cocteau vai além. Desaparece depois de lançar-se para dentro do espelho, como nesse trailer de "Sangue de um Poeta", lançado em 1930.
Cinema é risco, sempre. E talvez por isso mesmo Cocteau nos aproxime da vida mais ainda do sentido da vida, mesmo que seus filmes aparentemente nos conduzam pra longe da vida.
quinta-feira, 26 de março de 2009
quanto vale...ou é por quilo?
volume um
Algum tempo depois, vem o Jorge com a notícia: "Meu documentário foi aprovado pelo Fundo". Na real eu já sabia porque tinha visto a lista dias antes. Mas fiz de conta que fiquei surpreso. Afinal de contas, amigo é pra isso mesmo. Aí sim, com o projeto aprovado e mil e novescentas e trinta e sete ideias na cabeça, o Jorge enfim me apresentou ao seu documentário.
O resto é história de bastidores e se tiverem curiosidade entrem no blog do filme e confiram tudinho lá.
Só posso antecipar que o filme tá andando, sendo rodado aqui e ali. Nos três primeiros depoimentos deu pra sentir que tem muito pano pra manga. A diversão é garantida pra toda a equipe e pra todo mundo que tem sido entrevistado. Alguns preferem beber água durante o bate-papo, outros cerveja...
A foto que abre este post tem o Jorge como vocalista. O nome da banda HPS. Diz o Maneka (produtor do filme) que essa sigla dizia escondia algo muito especial. Já eu, acho que HPS é nome de banda de pagode 2° grau.
terça-feira, 24 de março de 2009
aqui do lado
Sabecumé...o filme tá aqui do ladinho de Cassias. Assim, sem querer muito quem sabe alguém, um dia desses, poderia trazer o filme pra cá. Quem sabe antes do Nery...Não conhece o Nery? Da Locadora San Remo... O Nery anda derrubando muito coordenador de sala de cinema Caxias afora... Quem sabe as coisas estejam mudando. Vai saber...
2008, Digital, cor 130 min, 18 anos
História de Camila, jovem empenhada em se tornar escritora. Sua vida é sua narrativa. Camila é intensa, corajosa e quer a sua literatura como um ato de revelação.
Gramado 2008: melhor filme + atriz (Leal) + direção de arte.
sábado, 21 de março de 2009
God loves his children...believe
Please could you stop the noise, I'm trying to get some rest
From all the unborn chicken voices in my head
What's this? (I may be paranoid, but not an android)
What's this? (I may be paranoid, but not an android)
When I am king, you will be first against the wallwith your opinion which is of no consequence at all
What's this? (I may be paranoid, but no android)
What's this? (I may be paranoid, but no android)
Ambition makes you look pretty uglyKicking, squealing, gucci little piggy
You don't remember
You don't remember
Why don't you remember my name?
Off with his head, man
Off with his head, man
Why don't you remember my name? I guess he does...
Rain down, rain down
Come on rain down on me
From a great height
From a great height... height...
Rain down, rain down
Come on rain down on me
From a great height
From a great height... height...
Rain down, rain down
Come on rain down on me
That's it sir
You're leaving
The crackle of pigskin
The dust and the screaming
The yuppies networking
The panic, the vomit
The panic, the vomit
God loves his children, God loves his children, yeah!
depois daquele beijo
segunda-feira, 16 de março de 2009
M.i.p.V
Mas então, conheci a M.i.p.V assitindo ao 3Efes. Curti muito. É um som simples, que bate na cachoila como um mantra-trilha-sonora de uma batalha entre cegos revoltados e raivoso embaixo d'água. Sem trucagem. Sem efeito colateral. Sorve na fonte de um monte de banda alternativa, garage rock, pincelando aqui e ali referências sutis. Não vou citar nenhuma dessas referências que percebi só pra deixar vocês mais curiosos.
Mas enfim, a M.i.p.V faz uma trilha sonora impecável pra uma cidade como Porto Alegre, ou Caxias, ou Guatemala. Principalmente trilha sonora pra uma noite interminável, cheia de ruídos dissonantes, de gente que não se entende e precisa de um tapa na orelha - com carinho, é claro.
Aproveite:
www.myspace.com/mipv
www.youtube.com/musicasinterminaveis
www.myspace.com/ypsilons
quinta-feira, 12 de março de 2009
de volta
Pra quem não sabe e sei lá se interessa...eu estava em Buenos Aires. Fui a passeio. Mas aí, sabicumé, conversa vai, conversa vem, conheci uns hermanos meio locos e cerveja vem, cerveja vai e topei um trabalho. Não me disseram do que se tratava e topei porque senti um tom de máfia no lance.
Esse papo notívago foi lá na sexta-feira. Por volta do domingo, ou madrugada de segunda, reencontrei os hermanos. Na mesma mesa do mesmo bar. Botaram 50 pesos na mesa e disseram "até amanhã".
Ô belezura. Enfim, conseguiria pagar as diárias atrasadas do hotel. Paguei, não pedi nota, por isso ganhei desconto.
Segunda-feira, às 7h, lá estava eu, sentado na sarjeta de uma das ruas mais movimentadas de Buenos Aires. Joguei a latinha de Quilmes no lixo mais próximo. De arremesso, claro. A la Magic Johnson depois de umas biras a mais. Quicou no aro, mas entrou. Enfim, os caras vieram. Quando dei por conta estava no meio da muvuca filmando um comercial de televisão de sei lá o que em Buenos Aires. Caraio...e de assistente de direção de fotografia. Putz, até miope eu sou e os caras confiaram a mim a responsabilidade do foco!
Quando a confusão cessou, lá pelas 17h, os caras me chamaram. Botaram mais 400 pesos na minha mão, me deram uma quilmes bem gelada e cairam fora. Quando dei por mim, só tinha eu e um monte de lixo espalhado pela rua. Fui direto pro hotel. Caí na cama como um cabrito depois do coice, antes da morte.
Acordei na madrugada com a televisão ligada e um compacto de River e Racing rolando. Vesti o que apareceu pela frente e fui desbravar a madrugada em Buenos Aires. Peguei um táxi e fui pro centro de tudo, perto do obelisco. Encontrei uma lancheria aberta e pedi duas Quilmes. Duas, de uma tacada só. Ofereci pro Don Diego Maradona que tava sentado do meu lado. Bebemos juntos só aquela Quilmes, porque depois do primeuro gole o cara caiu de costas no chão. Putz veio até ambulância, enfermeiro, que merda. Só na Argentina pra bêbado receber tanto carinho.
Pedi pro chefe da especunca se me venderia uma garrafa de uísque. Ele riu da minha cara. Bati no balcão e repeti: "quanto custa a garrafa de Jack Daniels?, ou vai dizer que nesta merda tem Wild Turckey?" Tomei um tabefe na orelha de ficar zunindo dois dias. Não tem problema, atravessei a rua e fui comprar uísque no primeiro posto de combustível que encontrei. Na verdade eles não vendiam uísque... Acabei comprando Ypióca. Sério... O posto era de um brasileiro que adora fuder argentino. Me fez 50% de desconto na garrafa e me indicou um bom bar de jazz em Buenos Aires.
Bebi metade da garrafa com ele e deixei o resto lá, pra ele beber com os frentistas, todos do interiro de São Paulo. E torcedores ferrenhos do Juventus. Ô gente boa. Camisa da mesma cor do glorioso Caxias. Força Grená.
Fui enfim pro bar de jazz, de táxi porque não entendi merda nenhuma onde ficava o bar. Cheguei lá e encontrei o meio irmão do Charlie Parker. Um negão de 2m, magro como a Olivia Palito. Tocava uma corneta como poucos. Depois do show pedi pra ele se podia pagar uma bebida pra ele. Me respondeu que sim. Puta que los pariu. O cara é de Sergipe. Mentiu pra todo mundo naquela porra de bar que era gringo, e meio-irmão do Charlei Parker.
Mentiu tudo, mas em nome do jazz vale tudo. Depois daquela pedi a conta. Deixei ali metade do cachê que faltava pra liquidar a fatura e voltei quase liso pro hotel. O resto? Bem, o resto é quase nada perto do que foram esses 4 dias em Buenos Aires.
Agora chega, preciso fazer a janta.
segunda-feira, 2 de março de 2009
é hoje
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
É Mugnolini no DVD
Confira aí, no videozinho.
faraway, so close
Cena 1 - Interna/amanhecer/diante do espelho
NARRAÇÃO EM OFF: "Perto, mas nem tão perto que seja difícil separar quem sou de quem você tenta me fazer parecer. Longe, mas nem tão longe a ponto de o coração arder de saudade".
Fade out/Fade in.
Cena 2 - Interna/noite/quarto
Beth Gibbons está deitada na cama. Lençóis revirados, maquiagem borrada, janela escancarada, cortinas dançando ao vento. Um sopro de incerteza paira no ar. Beth canta, ou melhor, murmura: "Give me a reason to love you, give me a reason to be a woman".
Fade out/Fade in.
Cena 3 - Externa/entardecer/parquinho
Menino triste. Sentado no balanço, quase parado, não fosse o movimento das pernas, desenhando o nada na terra seca. Atrás do menino não está a paisagem realista do presente, está passando uma versão surrealista da sua vida inteira. Vida que o menino-adulto revê com toda a inocência e desterro. Imagnes rápidas, aleatórias, sem ordem natural - apenas emotiva e sentimental.
Fade out/Fade in.
Cena 4 - Externa/amanhecer/cidade pequena, sem mar
Silêncio noturno no alvorecer de uma cidade pequena. Nem mesmo os pássaros se atrevem a interromper o luto.
Cena 5 - Externa/amanhecer/cidade com mar
Beira do mar. Pessoas coradas de sol ofuscam outras sem o mesmo brilho na pele, sem o mesmo sorriso serelepe no olhar. Lá no mar, depois de um mergulho e do primeiro banho de sol da manhã, um homem resolve levantar-se em meio a multidão e caminhar. Recita de caboa a rabo um poema de Ferreira Gullar. Não grita, apenas recita baixinho, equanto caminha na beirinha do mar, lavando os pés. Olhos no horizonte, engolindo o choro, recita:
"Que deus se enterra nesta tarde
em Ipanema? Que morto
vaza seu corpo no mar?
Mais alto ergue o mar os seus
ramos de pedra fugaz.
Como o canto que se perde
é a agitação colorida
das verduras, o sagrado
cruzar de espadas vermelhas
e negras. Rei de paus. Valete.
A Dama sacode a fronte
coroada de açucenas,
seus lutuosos cabelos,
sua túnica em quadrados
preto e branco. Amor e morte".
Já nos últimos versos vimos apenas o homem caminhar rumo ao infinito pela beira do mar. Aos poucos ele some e perde-se em meio a maresia.
Fade out/Fade in.
Cena 6 - Interna/amanhecer/velório na cidade pequena, sem mar
No meio da sala tinha um caixão. Um caixão. Madeira, madeira, madeira e madeira. Dentro dele ainda um corpo. Inerte. Desligado daqui, do nosso tempo. Agora livre, para procurar o seu lugar em outro plano. Nessa nova tragetória vai passar por algumas provações para poder sentar ao lado de Deus, pai-todo-poderoso. Ao redor do caixão pessoas rezam, algumas com um terço enrolado aos dedos. Outros de olhos cerrados, outros desviam o olhar do caixão. Mas todos rezam, da sua forma, pela vitória do homem que se foi. Silêncio. Ali no outro lado da sala tem uma janela e nessa janela vemos o menino do balanço. A câmera se aproxima. Lentamente. Em travelling. Ele chora e diz em silêncio, só pra gente ouvir. A gente que está do lado de fora desse filme:
"Pai, pode ir. Vá em paz. Me perdoa o desafeto de um dia sem noção. Porque eu te perdoo os dias de desafeto sem noção. Vá e descanse em paz. Deus é justo. Peças perdão e sentarás ao lado de Deus Pai Todo Poderoso. Te amo, sempre".
Fade out.
Fim.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
era pra ter sido só um sonho
Num instante sobrevoo um oceano límpido e infinito. Fecho os olhos e caio sem vertigem. A água gelada interrompe o transe. Acordo dentro da escuridão silenciosa. Ainda em gesto de quem nada mar adentro, sinto a rugosidade da areia entre meus dedos. Logo encontro a saída. Havia entrado na água pra sair na areia.
Mas como disse antes, era pra ter sido só um sonho. Nada mais.
Longe, bem distante, o sol imponente no horizonte trata de aquecer a areia debaixo dos meus pés. A essa altura já imaginava algo de messiânico nessa travessia. Mera ilusão. Não existe oásis no deserto. Nem tão pouco a barba desfigurada durante a travessia indica minha metamorfose em Cristo. O Segundo Cristo, quem sabe. Improvável.
Era pra ter sido só um sonho.
Nada mais. Nada além de um sonho inquieto, como todos os que Dali e Fellini enfrentaram e saíram ilesos. Ou quase. Porque há sonhos tão intensos que não dá vontade de voltar a abrir os olhos. Sonhos carregados de amor que nos deixa o corpo imóvel, inerente a própria sorte.
E no deserto, caminhando sobre a areia escaldante, com a barba de Cristo, mas desprovido de sua santidade, encontrei um poeta. De mãos doces como a chuva. Escrevia poemas na areia. Não tardavam e logo sumiam, embaralhados aos grãos de areia trazidos pelo vento.
Deu vontade de lutar pela permanência da palavra, da poesia. Mas logo fui demovido da idéia. Tão fugaz meu pensamento, voraz o vento. De costas pra poesia percebi sua perenidade. Menos aflito permiti que a poesia cumprisse seu papel. Mesmo que seja na areia. E só merece decifrá-la quem tem paciência de entender o tempo das coisas. De todas elas. Mesmo que seja o tempo de um sonho.
E era pra ter sido só um sonho. Nada mais.
Mas o tempo desse sonho, por eu já não me importar com sua permanência, tem durado anos e anos e anos. Mesmo quando durmo e não sonho esse sonho de areias escaldantes cujo portal é um oceano límpido e infinito, sinto a mesma brisa desse oceano e a mesma doce-aspereza da areia quente desse deserto perene.
E era pra ter sido só um sonho.
Nem mesmo quando o sol se pôs e a lua cheia iluminou o deserto tive medo. Talvez fosse aquela música do Nino Rota. Aquela do "Oito e Meio", do Fellini. Meio circo, meio deboche, com cheiro de travessuras de menino. Não sei. Não era pra ter sido nada além de um sonho. Mas ele perdura. Insiste na missão de desvendar o reino. O meu reino? Já disse que não acredito nesse reino messiânico que me coloca como um Segundo Jesus. Essa barba não tem poder de transformar água em vinho. Antes tivesse...
Nada disso. Era pra ser só um sonho. Mas nem no sonho eu transformava água em vinho. Talvez não tenha esse poder porque não saberia o que fazer com tanto vinho.
E logo amanheceu. Nino Rota sumiu. E levou com ele a doce sonoridade com gosto de infância, de moleque, de guri travesso. Olhei em torno e a areia quente tinha virado asfalto. No lugar do deserto sem fim, arranha-céus. No lugar do silêncio, trânsito infernal. Buzinas, gente gritando. Promoção de calça jeans! Promoção de calça jeans! Leva dez paga cinco!!!
Mas não era pra ter sido só um sonho?
Pés descalços pisando o asfalto quente. Uma estranha música que eu não conseguia decifrar, muito menos perceber de onde vinha, me contagiou. Curioso, cansado, quase amaldiçoado, enfrentei a neblina de gente sem graça, o trânsito trôpego, as caras amarradas, driblei o moleque na esquina degolando a velhinha, e me deparei com um velho usando chapéu de cowboy. Sentado na sarjeta, ele desferia:
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me
I'm not sleepy and there is no place I'm going to.
Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me,
In the jingle jangle morning
I'll come followin' you
Antes que ele pudesse continuar sua canção um palhaço arrancou o violão da sua mão, arremessou-o metros longe. Espatifou-se no asfalto. O velho levantou-se, abraçou o palhaço e saíram rindo, como se fosse o final de um filme do Chaplin. Enfrentaram a rua na contramão, como bêbados, como se dessem adeus pra isso que eu pensava ser só um sonho, nada mais.
E era pra ter sido só um sonho. Só. Nada mais. Não fosse...
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
o mundo em preto e branco de Fellini
Só pra começar bem o dia segue video com os primeiros 10 minutos do filme 8½, de Federico Fellini, lançado em 1963. No elenco, o alterego de Fellini, Marcello Mastroianni e a belíssima Claudia Cardinale. Esse é sem dúvida um dos filmes mais impressionantes do Fellini.
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
sala de cinema ulysses geremia
De olho no futuro abro meu voto em quem eu acredito ser o cara com as melhores condições na cidade para ser o coordenador da sala de cinema: NIVALDO PEREIRA. Quem não o conhece tá perdendo tempo. O cara é jornalista, roteirista de mão cheia e um cinéfilo de dar gosto. O Nivaldo não é do perfil de cinéfilo que só gosta e admira o cinema que cabe nos seus olhos. Ele tem visão ampliada e arejada.
E o melhor, não tem a pinta de intelectual, adora subversões e é muito curioso. Aprendo sempre com ele sobre cinema, mesmo quando ele não diz nada e acabdo tendo de descubrir que filmes ele anda pegando lá na locadora San Remo.
Mesmo sem voz nem vez nessa eleição resolvi dar meu pitaco: É NIVALDO NA CABEÇA!
abrazzzos
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Better man
Perde-se o abraço carinhoso, o beijo do pai sempre amoroso, as risadas depois de uma garrafa de vinho, os gritos de gol daquela partida apertada e quase impossível de vencer, as palavras-guia. Isso tudo eu perdi com a morte do pai. Mas ganhei uma estreita relação que não cessa nem mesmo enquanto eu durmo. Não fosse assim eu não teria acordado mais feliz hoje porque em sonho meu pai sorria e me dizia que tudo está bem. E me pediu pra ficarmos bem.
Aquele sorriso só dele, encantador, charmoso e de quem sempre viveu a vida na sua plenitude. Na plenitude de um homem bom. Eta palavrainha em desuso "bom". Quem não o conheceu talvez não saiba ainda o que é um "homem bom". Eu sei e tenho me policiado pra aprender a seguir apenas o exemplo dele. E esse homem bom é ainda mais sublime do que você imagina. Talvez eu nunca alcance essa dádiva que meu pai um dia alcançou, mas te confesso que tenho me dedicado a isso. Com afinco. E muito, mas muito amor.
Agora vou dormir porque tô um pouco cansado.
Inté.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
beijo amor, boa noite
Enquanto isso, o velho embaralha as memórias. Confunde os sentimentos e continua engordando o porco morto. Piada não se explica, mas no caso, ele, o gordo, é o porco morto.
Tem dias que o frio congela os ossos. Noutros parece que o perdão é uma palavra tão sem sentido e distante, como golfinhos deslizando sobre o desero do Saara. E nem memso a Sara, a da Bíblia, reconhece-se no espelho. Bendita seja ela o fruto desejado entre tantos homens. E assim seja. E foi. E sempre será.
No outro lado do rio, um menino caolho segue enfiando as mãos pelos pés. Joga futebol como quem flutua no espaço a caça de estrelas fugazes. Mesmo ainda bem menino ele sabe que a pipa não atravessa o rio.
Nada disso é sonho. Antes fosse. É realidade que meus olhos teimam em fisgar. A mesma realidade que me lançou dentro de uma noite veloz a perseguir uma menina linda, cujo olhar me enfeitiça e me devolve a um lugar tão singelo quanto caliente. Ao meu amor, muito mais do que as batatas, como diz naquele livro que ninguém lê, escrito pelo Machado de Assis.
Ao meu amor o perfume dos meus sonhos. Noite e dia. Ao meu amor, um beijo demorado que nos arrasta para dentro de nós mesmos. Sem pudor, nem vaidades. Beijo de amor. Simplesment, e por isso mesmo delirante, amor.
Já te disse hoje que te amo?
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Por quem Miles Davis chora?
e Augusto Nesi
Trancado dentro do carro no dia mais quente das últimas semanas me perguntava o porquê de tanto lamento. Aquele trompete ressoando e se impondo à melodia, me conduzindo de um extremo ao outro da existência: da plenitude da felicidade à derrocada da tristeza. Por quê? Por quem?
Lá fora o sol impiedoso derretia a todos. Caras cansadas, sôfregas de enfrentar o deserto de asfalto, mais pareciam os personagens de “Faça a Coisa Certa”, do Spike Lee. Nem mesmo as flores dos floristas de esquina sobreviviam. Murchavam diante do inevitável. E quando as pétalas das flores ressecadas se acumulam na sarjeta é sintoma de que parte da poesia do mundo se perde. Talvez nunca mais essa porção seja revista. Vai pro lixo. Sacralizada a poesia, mas pro lixo.
Enquanto isso, enquanto transitava de um extremo ao outro dessa avenida esguia, cada vez menos charmosa e mais poluída, Miles deixava fluir sua incondicional virulência. Miles não é o tipo de cara que deixa rastro, muito menos esbraveja numa atitude intempestiva de se impor. Miles simplesmente exala seu perfume no ar. Igualzinho às rosas de Cartola. Da mesma essência, ao mesmo pó.
Miles só queria nos conduzir ao silêncio. Pra um lugar onde só pudéssemos ouvir o nosso coração. Mais nada. Mas como enfrentarmos nossa ignorância? A solução seria permanecer trancafiado nesse carro, atravessando o asfalto quente, e ouvir sem parar Miles Davis e suas notas de um azul sublime e profundo? Não sei. Não descobri até agora. Mas percebi que Miles chora. E aparentemente isso não faz sentido.
Astor Piazzolla é da mesma verve. Aparentemente desconexo, mas imponderavelmente sublime. Miles e Piazzolla nos conduzem com exatidão por todos os percursos da vida. E quanto mais atribulada, monótona e dispersa for essa vida que a gente leva mais seus floreios e virulências descabidas se impõem. Mas quando conseguimos perceber o sentido e a necessidade da poesia é porque estamos preparados pra ouvir as sutilezas de Piazzolla e Miles.
Mesmo dentro dessa sutileza serena, longe da noite veloz (de Gullar), não consigo entender porque ele chora. O tempo é outro. De sublimar esse lamento e me deixar conduzir pelo inesperado de suas notas. De preferência as mais melódicas, que carregam todos os outros instrumentos na mesma cadência. Longe do desespero, dos dedos ágeis e velozes, longe do fôlego trôpego, longe da insensatez daqueles devaneios de Miles, entendo melhor o que tem pra me dizer.
Segue teu lamento Miles. Eu sigo cá do outro lado do rio, varrendo as ruas e recolhendo as pétalas secas. Sigo armando jogos de armar. Sigo aparando a grama dos jardins suspensos. Sigo aqui do outro lado de lá desejando entender por quem choras... Como um Fausto às avessas espero nunca descobrir. Mas voltarei a casa, como um bom filho pródigo. Como o filho que honra mesmo à distância, como o filho que discute em casa, mas reconhece em casa sua finitude.
Menor do que um grão de areia, mais fugaz do que a última nota de suspiro de Miles.
Dorme, guri.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
do it yourself
Só não curti uma coisa: não precisava colcoar no final do clipe, depois dos créditos "obrigado por perder seu tempo". Perde tempo quem avacalha com iniciativas como essa.
Tá chega agora, vai assistir: aqui.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
desassossego
No azul menos pálido e menos azul, que se espelha nos prédios, entardece um pouco mais a hora indefinida".
Bernardes Soares (heteronômio de Fernando Pessoa), em Livro do desassossego
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Só assim, divagar, sem nada buscar, nem desejar...
Tem dias que nada parece fazer sentido e justamente por isso me faz entender como nada é o que parece. Não uso drogas, acho um saco ter de manipular psicotrópicos pra sair do nada e encontrar lugar nenhum. Se é pra viajar eu prefiro a solidão. Uma estrada vazia, um disco estranho girando, girando no toca CD do carro, o sol se pondo, lentamente, e alguém pra chamar de "meu amor". O resto? O resto a gente compra no supermercado.
Há dias não escrevia nada. Absolutamente nada. Nada além de recados pra grudar na geladeira. Aí fui encarar a estrada. Bendita salvaguarda. Estrada guia. Não é o cheiro do asfalto, muito menos da combustão da gasolina que me provoca alucinações. Nem mesmo a Björk sussurrando ao pé do ouvido. É a travessia. Mesmo que de umn lado ao outro, rumando aparentemente sem destino eu chegasse na outra ponta da estrada do memso jeito. Quem sabe um pouco mais careca, afinal de contas o tempo é inexorável.
Mas a estrada exerce um fascínio sobre as pessoas. Mesmo quem despiste. Mesmo quem não reconheça essa estranha sensação de enfrentar a estrada. A cada travessia, por mais curta a distância, nos conduz para uma nova atmosfera. Parece papo de psicótico, eu te entendo, mas é um pouco além. Tipo, já fizeste uma viagem sem pressa, aproveitando todas as surpresas que a estrada oferece? Sem pressa é possível ver uma cabra comendo um pasto qualquer, sem importunar ninguém.
Sem pressa é possível aproveitar da paisagem. E sempre há um lugar mágico pra uma boa parada. Parada de deixar as portas do carro abertas, de ficar bem na margem de um vale silencioso, e talvez por isso mesmo tão mágico. Avistando um horizonte desses, que nem parece ficar à margem de uma rodovia movimentada, é possível entender porque tantos ajoelham-se todos os dias e oram pra agradecer a Deus a sua existência nessa vida. Porque à beira de um vale verde ou de um mar infinito aos olhos nossos tão pequenos, reconhecemos quanto inignificantes somos nesse mar de sonhos, amores, encantos e esperança.
Porque a morte nos encontrará, mais cedo ou mais tarde, seja num desfiladeiro, seja assistindo a tediosa programação de um canal qualquer da televisão. Mas muito antes dela nos encontrar é preciso dar tempo e espaço a vida. Vida atribulada, vida de supermercado, vida de afazeres domésticos, vida de cuidar dos filhos, vida de pagar IPTU, também. Mas é preciso dar espaço a uma outra vida, que é só nossa, que ninguém nos rouba, nem mesmo a quem mais amamos: nossa única e simples vida. Entender-se como indivíduo único e especial, que tem sua missão aqui nesse amontoado de terra é estar pronto para encarar-se ao espelho, sem medos nem cobranças.
Cabeça confusa é só uma rota de fuga. Mas se tiver de escolher uma fuga encare a estrada. Sem pressa de ir, muito menos de voltar. Se puder ser sem rumo melhor ainda. Aproveite o tempo, o silêncio da noite, a vaguidão da paisagem. Porque sentado na frente de um computador, com telefone tocando, com gente te chamando a todo instante, com contas pra pagar, com o carteirto batendo à sua porta, não dá. Não tem Cristo que se reconheça na sua intimidade se ao invés de viajar pra dentro de si mesmo Cristo tiver de a realidade disfarçada de cotidiano.
Permita-se viajar. Permita-se entender que nada, aboslutamente nada nessa vida vale mais do que o tempo a si mesmo. Seu amor vai lhe agradecer.